Não gosto do silêncio...
O primeiro brinquedo que ganhei na infância foi um tambor...
Esmurrei com a baqueta até furar...
A família deu graças...
Os vizinhos, hosana nas alturas...
Certo dia os postes de madeira da minha rua estavam para ser trocados...
A prefeitura fez buracos ao lado dos antigos para após retornarem com novos...
Choveu...
Descobri o som maravilhoso das pedras que eu arremessava naquela água até a borda...
Cataplum...
O barulho oco da pedra antes de sumir deixando um círculo perfeito em torno...
A terra era de tabatinga vermelha e as formigas bundudas sumiram para outras paragens ao sol não mais esborrachar novas fendas para passearem...
Durante semanas chuvosas eu retornava a cada manhã para além do meu portão...
Acordava e sentava ao lado do poço providenciado pelo poder público que não retornava para concluir...
Cataplum, cataplum...
Finalmente - algum dia de arco íris com uma caçarola de ouro no extremo direito - chegaram os postes na caçamba de um caminhão Fenemê que de tão grande preenchia minha imaginação a cobrir a rua inteira até as coxilhas envoltas por nuvens de algodão...
Fincaram postes novos na rua inteira...
Menos em frente a casa onde eu morava...
Impossível, o buraco estava com pedras até a borda...
Quando descobriram que era brincadeira de um menino maluco de quatro anos de idade virou piada na rua...
Tiveram que fazer outro buraco poço ao lado...
A rua inteira ficou as escuras por minha causa...
Nas noites seguintes a cada vez que eu teimava em não dormir meus pais ameaçavam com pessoal do Fenemê da CEEE no portão como Homem do Saco que rapta criancinhas e entrega para ciganos....
Juro que até sonhava em morar em barracas imensas e ter a liberdade plena daquelas crianças que corriam entre moças de colares de ouro, grandes brincos de argolas e saias vermelhas rodadas sem jamais serem repreendidas...
Mas...
Tinha que ficar calado até adormecer...
Em tempos de silêncio e solidão bate angústia enorme...
Prefiro o som do meu tambor...
Jorge Schweitzer
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