terça-feira, 23 de agosto de 2011

Bucolismo só é lindo nos quadros de Monet...




Tempos atrás brinquei por aqui:

"O poeta e a musa pragmática:

Descrevi um Octopus singrando o Mediterrâneo; tapetes Tabriz; taças; champanhe Perrier Jouet 2000 Belle Epoque; uma sobremesa de frutas com escultura de chocolate e uma pedra preciosa...

Mandou transformar tudo em numerário e depositar na sua conta corrente do The First National City Bank...

É duro ser poeta com estas musas modernas..."

Era uma caricatura, mas não longe do real...

Ninguém mais cai nesta de um amor e uma casinha de sapê...

Domingo passado assisti no Domingo Espetacular reportagem de um casal que vive assim...

Tiveram furtados seus pertences e ficaram somente com a choupana e a vista...

Na matéria a dona fala que ali não existem vizinhos prá perturbar...

Quem me conhece sabe que odeio vida rural...

Bucolismo só fica bem nos quadros de Monet...

Gosto de trânsito, gente, prédios, esquinas...

Nada de retreta na praça, missa campal, pregação longa, discurso de prefeito do interior...

Boi mugindo, sapo coaxando, beija flor saltitante e vagalume pisca-pisca só no cinema...

Tô fora...

Só de imaginar me dá melancolia...

Troco um castelo inteiro com torneiras de ouro no meio do nada por uma mula sem rabo cheia de papelões estacionada debaixo de um viaduto de cidade grande com um street dog como meu guardião...

Sou urbano...

Completamente...

Qualquer passageiro que tenta me conduzir além do Méier temo não saber retornar...

Tempos atrás um amigo disse: "Pô cara, vem morar aqui em Nova York"...

Imaginei...

Sou totalmente capaz de colocar aquela cidade inteira prá dançar...

Penso grande...

Lógico, mesmo que seja ilusão...

Fazer o que...




Jorge Schweitzer




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