sábado, 4 de junho de 2011

Entrevista do padre Júlio Lancellotti a Folha de SP foi ótima como desabafo em causa própria... Só ainda não entendi de onde veio a grana da Pajero...

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ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO

Conhecido pela atuação entre moradores de rua e adolescentes infratores, o padre Júlio Lancellotti, 62, afirma que a Igreja, apesar de ter ficado alerta com as denúncias contra ele, sempre o apoiou.


A afirmação foi feita ontem, um dia depois da condenação de Anderson Batista, 30, e Conceição Eletério, 45, acusados novamente de tentar extorquir dinheiro do padre.

O casal, que havia sido inocentado em 2007 por insuficiência de provas, dessa vez foicondenado a sete anos e três meses de prisão.

Imagens de Anderson cercando o padre na porta de casa serviram de base para a condenação em primeira instância. Cabe recurso.

A seguir, veja a íntegra da entrevista publicada na edição deste mes de maio/2011 da Folha.

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Folha - Como o senhor recebeu a sentença de ontem?
Padre Júlio Lancellotti - A Justiça se fez tardiamente. Não me alimenta nenhum desejo de vingança. Eu lamento todo esse sofrimento, pois sempre acreditei que as pessoas podem melhorar. Então, é um momento importante. Um momento em que a Justiça reconhece os fatos que tanto foram propalados e nem sempre acreditados [da extorsão].

A sua palavra não bastou. A tecnologia acabou sendo a principal testemunha nesse caso, com a imagem do Anderson no seu encalço?
Eu não sabia que tinha aquela câmera. Naquele momento, eu estava tão aterrorizado que eu atravessei a rua para esperar o táxi que vinha me buscar. Foi o doutor Joaquim, quando veio fazer o reconhecimento do local, que percebeu a câmera e requisitou as imagens no condomínio. Como eu disse ontem ao juiz, foi a mão de Deus, porque muitas vezes as pessoas achavam que eu estava delirando ou não falando a verdade. Quando ele me falou que as imagens eram claras e mostravam a abordagem, foi um alívio. Puxa, finalmente vão acreditar no que eu tô falando.

Como é lidar agora com o desfecho desse caso?
Foi muito doloroso pelo sofrimento que causou a minha mãe. Ela faleceu durante esse tempo. Doloroso para o meu irmão, que também faleceu. Foi muito doloroso para a minha vida. Muita gente disse que eu experimentei do veneno que combati. Muitos festejaram o meu sofrimento. Eu não quero festejar o sofrimento de ninguém. Eu quero que todos tenham vida com dignidade.

O fato de ter se colocado como defensor dos direitos das crianças se voltou contra o senhor?
Acredito que tudo isso tenha a ver com uma trama histórica. Tem aspectos políticos, religiosos, luta por audiência entre emissoras de televisão. Tem também o aspecto de destruir a Igreja. Houve muito disso. Foram todas coisas que eu tive que viver. Minha vida foi vasculhada de todos os lados, por todos. Principalmente pela imprensa. Pelo Ministério Público, pela polícia, pela Justiça, a própria Igreja também olhou com muito cuidado e procurou ver todos os levantamentos. Ninguém teve a vida tão vasculhada ao mesmo tempo por tantos grupos como eu me submeti.

O senhor acha que a acusação de pedofilia contra o senhor caiu um terreno fértil por conta dos escândalos envolvendo padres católicos?
Isso foi antes da onda de denúncias. O caso foi em 2007. Foi uma coisa que aconteceu antes. Mas é um assunto em torno do qual tem muito sensacionalismo. Ninguém vai atrás das mais de 50% de crianças que são abusadas pelos seus familiares, seus pais. É uma chaga dolorosa em qualquer sentido e deve ser combatida. A gente vinha do massacre de 2004, de moradores de ruas, que até hoje está impune. Vinha de toda a luta que a gente teve pela justiça aos moradores de rua, das políticas higienistas acontecidas nessa época. Então, era um caldo de interesses políticos que me identificavam com uma determinada linha política. Inclusive uma determinada enciclopédia da internet me coloca como um padre católico comunista. Então, as causas que eu abracei, principalmente a dos direitos humanos, e as causas ligadas à população de rua tiveram realmente influência em querer calar a voz, em querer desacreditar, em querer banalizar e querer destruir.

Qual foi o seu erro?
São tantos enganos que a gente tem na vida. Acho que o erro de confiar muito, de acreditar, de persistir em determinadas coisas. Talvez tenha errado em ter demorado tanto, de ter esperado tanto no primeiro episódio. Devia ter agido mais rapidamente. Depois, o própria artigo do doutor David, que a Folha publicou, coloca muito o que acontece por quem está passando por uma tortura psicológica. Aquele artigo é uma discrição completa. Quando saiu, eu disse: "Puxa, finalmente alguém escreveu o que eu sinto".

Que sentimentos são esses?
De ter sido despido publicamente. De ter sido triturado. De ter sido massacrado, linchado. Com muito apoio, muito fogo da imprensa.

A sua maior mágoa vem de onde?
Eu tenho uma mágoa muito grande com a imprensa, porque a imprensa não usou de inteligência. Foi extremamente em busca de manchetes. Perguntei uma vez para um jornalista: "Se eles disserem que eu tenho um arsenal de armas em casa, você vai publicar?" Ele disse que sim e em grande manchete. Respondeu ainda: "Depois, se não for verdade, a gente vai dizer o que acontece".

Que lições o senhor tirou desse processo?
A grande lição é de que a gente é humano e sofre. De que a vida humana ensina que a não há amor sem dor.

O que o senhor tem a dizer ao Anderson e à Conceição, que se dizem inocentes?





Eles alegam que só foram pegos porque o senhor é uma pessoa influente.
Eles sabem a verdade. Como eu disse ontem ao advogado deles, ele é a minha maior testemunha, porque ele sabe o que é verdade e o que é mentira. O Anderson e a Conceição também sabem a verdade. Eles sabem qual é a mentira que eles estão contando. Eles não deixaram de ser meus irmãos. Continuam sendo filhos de Deus e meus irmãos. Mas eles são as principais testemunhas. Espero que um dia eles sejam capazes de, para si mesmos e para os outros, de dizerem a verdade
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Conceição apelou para a situação do filho que vai ficar abandonado com os pais presos. O que senhor achou desse argumento emocional?
Criança tem que ser respeitada. Não quero entrar nessas coisas. Esse menino tem que ser protegido.

Como vai ser a sua vida daqui para frente?
Essa sentença é importante não por vingança, mas para que se restabelecesse uma verdade que tardou tanto, de que havia ameaça, de que havia extorsão. Dessa vez, teve a filmagem. Eu vou continuar vivendo, talvez mais cansado, mais calejado. Estou mais sofrido pela perda da minha mãe. Estou mais envelhecido. Mas eu vou continuar amando e defendendo o povo da rua, junto da minha comunidade, da paróquia onde estou, sendo fiel à Igreja e continuar caminhando.

O senhor contou com o apoio da Igreja?
Dom Odilo Pedro Scherer sempre me apoiou. É um homem de extrema confiança, de olhar nos olhos e ler a verdade do que a gente está dizendo. Ele sempre me apoiou. Tem sido um pastor e pai.

E os fieis? Como reagiram às acusações?
Claro que algumas pessoas se escandalizaram e se afastaram. Mas foram poucos. Eu devo muito à comunidade da paróquia. Por estar lá há tantos anos, eles me conheciam. Conheciam a minha vida mais do que ninguém. Sabem da minha vida. Participam de tudo. Eles sempre me apoiaram, me fortaleceram. Eles sofreram comigo.















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