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Kleber Tomaz
Do G1 SP
“Ele não pediu desculpas para mim. Quero que ele peça desculpas para mim também, e não somente para os fãs dele." A afirmação é do motorista Ugo Santoro, vítima de um acidente automobilístico provocado por Rangel, da dupla sertaneja Ronny e Rangel, na quinta-feira (30).
O homem conta ter visto pelo retrovisor o veículo Fox do cantor bater na traseira do carro que ele guiava, uma Fiorino que estava parada antes da cancela do posto de pedágio da Rodovia dos Bandeirantes, em Itupeva, interior de São Paulo, no sentido Campinas.
Deu pane na cancela do Sem Parar. Ela não abriu quando eu me aproximei e parei. Quando vi, um funcionário do pedágio pôs a mão na cabeça. Olhei pelo retrovisor e vi aquele carro amarelo crescer e bater na minha traseira. Ele devia estar a uns 100 km/h. Mas a velocidade permitida naquele trecho é de 40km/h. Com o impacto, o automóvel onde eu estava foi lançado para frente e arrebentou a cancela. Enquanto eu estava meio atordoado e anestesiado, o carro amarelo não parou para saber como eu estava e fugiu”, relata Santoro, de 30 anos, em entrevista ao G1.
A assessoria de imprensa do cantor Rangel informou que ele não parou no pedágio e atingiu a traseira da Fiorino porque não tinha discernimento, não sabia o que estava fazendo já que estava bêbado. A assessoria ressaltou o que o artista já havia dito em entrevista: que estava arrependido e ciente dos erros que cometeu.
Santoro afirma que só começou a perseguir o Fox conduzido pelo sertanejo Rangel porque os policiais militares rodoviários que estavam próximos ao pedágio no momento do acidente não fizeram nada. “Como não vi movimentação dos policiais, pensei que eu ficar no prejuízo. Eu precisava fazer o motorista do carro amarelo pagar o conserto, até porque a Fiorino não é minha. É do meu trabalho. Eu faço entregas de peixes. Como eu não havia anotado a placa dele decidi segui-lo.”
Para conseguir ficar no encalço do Fox, Santoro afirma que foi preciso acelerar também. “Eu cheguei a 160 km/h, mas mesmo assim não alcançava o veículo da frente, que devia estar a uns 180 km/h. Para perseguir ele cometi os mesmos erros dele. Mas não bati em ninguém.”
Durante a perseguição, ele afirma que se “enraiveceu” com o motorista do Fox. “Eu nem sabia quem era o condutor. Só sabia que ele me ‘enraiveceu’. Queria saber por que ele estava fugindo”, conta o motorista da Fiorino.
Santoro diz ter ligado para o telefone 190 da Polícia Militar relatando o que estava havendo. “Disse qual era a placa do Fox. Um atendente falou para mim que avisaria a Polícia Militar Rodoviária Estadual. Depois, outro policial disse para eu parar a perseguição e registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil.” O motorista, no entanto, não obedeceu à orientação do policial militar do Centro de Operações da PM e continuou a perseguição até uma estrada em Campinas, próxima ao aeroporto da cidade.
“Quando o policial falou ao telefone que nenhuma viatura iria perseguir o carro, aí que continuei até onde dava. Foram 35 km de perseguição. O carro dele começou a falhar e parou. Parei também, desci e vi um carro da Polícia Rodoviária se aproximar. Acenei, ele parou e dois policiais foram até o Fox, onde encontraram o motorista completamente bêbado”, diz Santoro.
No Fox de Marcos Roberto da Costa, de 33 anos, que usa o nome artístico de Rangel, a polícia encontrou uma garrafa de vodca vazia e remédios. Detido e levado para uma delegacia de Campinas, o sertanejo confessou ter bebido vodca e cerveja em uma festa na capital paulista, mas não quis fazer o teste do bafômetro para atestar a dosagem alcoólica em seu organismo.
Encaminhado ao Instituto Médico-Legal (IML), Rangel também se recusou a fornecer amostra de sangue para análise. O exame para saber se ele consumiu álcool foi feito visualmente por um médico. Caso o resultado do teste aponte que ele bebeu, o cantor poderá ser indiciado pela Polícia Civil por embriaguez ao volante, acidente de trânsito e fuga do local da colisão.
Após prestar depoimento na delegacia, Rangel acabou liberado ainda na noite de quinta. Ele deve responder em liberdade. Apesar disso, corre o risco de perder a habilitação de motorista e ainda ter que cumprir uma pena de seis meses a três anos.
“Não me feri gravemente. Foi mais o susto da batida e alguma escoriação. Mas ele podia ter me matado como matado outras pessoas no caminho. Tenho quatro filhos para criar. Muita gente pensaria nos filhos e desistiria da perseguição, mas na hora pensei que meus filhos poderiam estar dentro do carro onde eu estava também”, diz Santoro, que é casado e mora em Campinas.
De acordo com o motorista da Fiorino, os advogados e familiares do cantor foram prestativos com ele e até se desculparam pelo ocorrido na delegacia. Mas apesar de terem dito que pagarão o conserto do veículo, ele afirma que não gostou do que viu durante a elaboração do boletim de ocorrência. “Só depois soube que se tratava de um cantor. Lá na delegacia, passaram a mão na cabeça dele e davam risada. Isso só o incentiva a fazer algo pior. Todo mundo o abraçava. Ninguém chamou atenção dele”, diz Santoro.
Na manhã desta sexta, Rangel postou no Facebook que tinha bebido por causa de uma briga com a noiva, que tem 32 anos e mora em Piracicaba, a 160 km de São Paulo. Na rede social, ele disse que estava sofrendo por amor e que errou ao pegar o carro e sair sem estar consciente do que fazia. Também se desculpou com os fãs da dupla pelo que fez.
Cantor Rangel diz se sentir 'envergonhado' (Foto:
Claudia Silveira/G1)Em entrevista ao G1 durante a tarde, o cantor detalhou que bebia vodca com um grupo de amigos quando começou a discutir pelo celular com a noiva. Os dois desligaram o telefone e, ao tentar ligar para ela novamente, só dava caixa postal. Segundo ele, o medicamento que toma para um tratamento de refluxo e faringite potencializou os efeitos nocivos do álcool da bebida que tomou.
“Para você ver, na internet ele pediu desculpas para os fãs e na delegacia nem pediu desculpas para mim quando começou a ficar mais consciente e estava do meu lado. Não quero dinheiro, só quero um pedido de desculpas. Eu podia ter morrido no acidente”.
AutoBan
Questionada sobre o incidente, a AutoBan, concessionária que administra o sistema Anhanguera-Bandeirantes, nega a versão do motorista Santoro de que o serviço Sem Parar, que abre a cancela com a aproximação de um sensor, apresentou problemas. A empresa diz que o mais provável é que o sensor da Fiorino estivesse mal colocado e não tenha permitido a abertura da cancela.
Polícia
Também procurada, a Polícia Militar afirma, em nota, que não recomenda atitudes como a tomada pelo motorista. "Em atenção à solicitação sobre a ocorrência envolvendo o cantor Rangel, na Rodovia dos Bandeirantes, a Polícia Militar não recomenda, em hipótese alguma, a atitude do motorista que foi vítima do acidente de trânsito. Em casos desse tipo, anotar a placa do veículo, o local e o horário do acidente, além do arrolamento de possíveis testemunhas, são as providências suficientes para o registro da ocorrência e o acionamento jurídico para a reparação dos danos."
"A atitude descrita poderia ter resultado em acidente mais grave ou, ainda, desentendimentos que poderiam progredir para vias de fato. São comuns registros de lesão corporal e até de homicídio por problemas ligados a discussões de trânsito. Anotar as informações e procurar um posto da Polícia Militar é a atitude mais correta em qualquer ocasião", diz a nota.
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sábado, 2 de julho de 2011
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