sábado, 2 de julho de 2011

O casal de catadores da minha rua

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Noite fria...

Ao entrar na rua escura vejo o vulto de duas pessoas magras remexendo sacos pretos de lixo...

São como antigos cachorros vira-latas...

Só ao chegar próximo identifico que é um casal...

Ele me olha bem de frente...

Parece pensar em pedir algo mas sente-se envergonhado...

Abaixa a cabeça e continua escarafunchando...

Meto a mão no bolso e pego todas moedas...

- É para um café!

Ele apanha...

Os dois agradecem quase em coro:

- Deus lhe pague!

Ainda bem que não repetiram 'lhe dê em dobro' já que nem chegava a três reais...

Continuo andando devagar...

Por que não dei mais?

Quanto lixos necessitam revirar para alcançar cinco reais?

Quantas latinhas de alumínio?

Não sei...

Talvez a noite inteira...

E se começar a chover?

Já quase um quarteirão a frente, retorno...

Com uma nota de 20 reais já na mão...

Fico sem graça de dizer que mudei de idéia:

- Encontrei esta nota no chão ali na frente, achei que fosse de vocês e voltei para devolver...

- Não é nossa, não senhor!

- Agora é!




Jorge Schweitzer



PS: Lembro de uma moça bonita na frente do Bob's da Praia de Botafogo que saiu com dois sacos de lanches e um menino de rua a abordou pedindo um pedacinho... Ela entregou o lanche todo... Fiquei indignado e perguntei se ela queria que eu resgatasse de volta... Não! ... Me falou que se sentiria muito mal saboreando algo que outro semelhante não tinha condições de comprar... Aleguei que ela não conseguiria comprar todos big bobs do mundo para todos pedintes... Ela encolheu os ombros e sorriu... Jamais esqueci... Ah, sim... Minha cota semestral é R$ 20,00; se aparecer um mendigo hoje todo fagueiro vai tomar um não e um esporro... O próximo só em dezembro...



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