terça-feira, 26 de julho de 2011

Polícia volta a investigar participação de Romário em Pirâmide da Fortuna que teria levado ao assassinato de Glauber de Jesus Matos do Nascimento

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Marcelo Gomes
Suspeito de ser o cabeça do jogo de azar conhecido como Pirâmide ou Roda da Fortuna, que teria gerado um prejuízo de R$ 10 milhões a dezenas de pessoas, Jorge Alexandre Tavares Domingues, o Índio, afirmou, em depoimento na Delegacia de Defraudações da Polícia Civil, que o ex-jogador e atual deputado federal Romário investiu R$ 2 milhões numa operação de importação conhecido como "door to door" (porta a porta). Administrado por Alexandre, o suposto grupo de investimento compraria mercadorias no exterior, aceleraria sua liberação em portos brasileiros e as entregaria diretamente aos clientes que as encomendaram. A polícia suspeita, porém, que a operação era uma fachada para a "pirâmide".

Em seu depoimento,ao qual o EXTRA teve acesso, Alexandre negou a existência da pirâmide. Entretanto, até ontem, ele não havia entregue à polícia quaisquer documentos que comprovassem a existência desse negócio.

— Isso reforça os indícios de que houve, sim, uma Pirâmide que, em algum momento, quebrou e gerou prejuízo para várias pessoas. Para comprová-la, precisamos confirmar que houve o aporte de recursos de terceiros no esquema — explicou o delegado Fernando Vila Pouca, titular da DDEF.

O depoimento, porém, não revela se o investimento de Romário gerou lucro ou prejuízo, nem se a atividade de importação foi paralisada ou não. Alexandre contou que, em 2002, começou a trabalhar como despachante aduaneiro — conhecido como "zangão" — nos portos de Itaguaí e de Santos. Entre 2006 e 2007, ao perceber a lucratividade das operações door to door, resolveu iniciar o negócio por conta própria. Cerca de 17 pessoas teriam se juntado a ele num grupo de investimento, com valor inicial de R$ 116 mil. Em dois anos, o suposto fundo teria amealhado R$ 2 milhões.

Segundo o depoimento, tomado em 5 de julho do ano passado, seis meses após o início do investimento, ele foi apresentado a Romário por amigos em comum. Os dois ficaram íntimos rapidamente, a ponto de um frequentar a casa do outro. De acordo com Alexandre, em junho de 2008 Romário o convidou para uma festa nas Ilhas Cayman, um conhecido paraíso fiscal no Caribe. Alexandre negou que ele ou Romário tivessem investimentos no local.

Alexandre contou à polícia que, devido aos boatos de que seria o responsável pela Pirâmide que quebrou, vinha recebendo diversas ameaças de morte e que, por isso, estava "vivendo como um nômade".

Depoimentos têm pontos conflitantes

Alexandre confirmou no seu depoimento que, em setembro de 2008, estava numa casa de sucos na Barra da Tijuca, na companhia de Romário, quando levou uma coronhada na testa de Glauber de Jesus Matos do Nascimento, que teria perdido dinheiro após a "quebra" da pirâmide. O agressor estava armado com um fuzil. Alexandre disse que, até então, nunca o tinha visto.

Alexandre disse que, após a coronhada, foi levado por Romário ao Hospital São Bernardo, na Barra. Ele levou pontos na testa e, quando teve alta, o Baixinho não estava mais lá.

Glauber terminaria sendo assassinado em 10 de janeiro de 2010, em Piedade, Zona Norte do Rio. O crime ainda não foi elucidado, mas uma das linhas de investigação da polícia é o desentendimento entre a vítima e Alexandre em 2008.

Três diferenças

Há pelo menos três diferenças entre as versões de Alexandre e Romário. Ao ser ouvido na Defraudações em 23 de julho de 2009 — quase um ano antes de Alexandre — o Baixinho negou qualquer envolvimento na pirâmide, mas omitiu o suposto investimento de R$ 2 milhões no negócio de importação "door to door".

Ao contrário do que afirmou Alexandre, o ex-atacante disse apenas que o conhecia "da praia", mas que não era seu amigo. Romário disse que desconhecia as atividades de Alexandre.

Por fim, o atual deputado federal pelo PSB também admitiu que conhecia Glauber, mas omitiu o fato de ter presenciado a agressão de Alexandre.

O EXTRA procurou a assessoria de Romário na Câmara dos Deputados. A assessora Taíssa da Silva informou que o parlamentar está fora do país, sem telefone. Ela pediu que as perguntas fossem enviadas por e-mail, o que foi feito. Não houve resposta até o fechamento desta edição.

Foro privilegiado faz o inquérito ir para o STF

O inquérito 046/2010, que investiga a existência da pirâmide, será remetido nos próximos dias à Procuradoria Geral de Justiça, que deverá enviá-lo ao Supremo Tribunal Federal (STF), já que Romário — eleito deputado federal nas eleições de 2010 — possui foro privilegiado para responder a processos.

— Há claras divergências entre os depoimentos de Romário e Alexandre. Como Romário é um dos investigados, o inquérito deve prosseguir no STF — explicou o delegado Fernando Vila Pouca, da DDEF.

Após as eleições de 2010 , mas antes de o Baixinho ter sido diplomado, o delegado oficiou diversos órgãos — Receita Federal, Banco Central e Secretaria estadual de Fazenda, entre outros — solicitando informações sobre a movimentação financeira de pessoas e empresas citadas no inquérito.

Para o delegado, até o momento há indícios de estelionato e crime contra a economia popular no esquema. O grande problema, segundo ele, é que as pessoas que foram lesadas após a quebra da Pirâmide não aparecem para depor:

— Como o jogo era uma aplicação ilegal, quem perdeu dinheiro não vai aparecer. Para comprovar o esquema, teremos de encontrar movimentações financeiras atípicas.

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Um comentário:

  1. João Paulo Ferreira de Assis27 de julho de 2011 às 01:31

    Olha Jorge, eu já caí numa roubada dessas por culpa do meu professor na graduação de História, que me convenceu a entrar numa ''corrente da felicidade'' chamada Microdados 2001, que faziam o mapa astral da gente etc e etc. Tirei dinheiro da caderneta de poupança, dinheiro da mesada que o meu pai me dava para cair nessa. Perdi o dinheiro, e aprendi que neste mundo tudo tem um preço.

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