quarta-feira, 20 de julho de 2011

Polícia pede prisão do mandante e dos executores do casal de extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo

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Polícia pede prisão de três suspeitos por morte casal de extrativistas no PA
Mandante é dono de terras em assentamento e está foragido, diz delegado.
Dois executores foram identificados; crime ocorreu por disputa de lotes.

Tahiane Stochero

Do G1, em São Paulo

A Polícia Civil do Pará pediu a prisão preventiva de três suspeitos de participar do assassinato do casal de extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, ocorrido em uma emboscada em 24 de maio.

Um deles é um trabalhador rural, dono de terras no assentamento em Nova Ipixuna, no sudeste do estado, e é apontado como mandante do assassinato. Os outros dois são os executores do crime, segundo o delegado Silvio Maués, diretor policial no interior do Pará.

Os três estão foragidos e não foram localizados pela polícia para prestarem depoimento sobre a suposta participação no crime. Eles foram indiciados por homicídio triplicamente qualificado.

“O dono das terras é o mandante. O crime ocorreu por disputa por um lote de terra que era de sua propriedade e que foi invadido por parentes de José Cláudio. Os dois tinham uma briga direta”, afirma Maués em entrevista ao G1.
Quando chegou a Nova Ipixuma, em 2010, o trabalhador comprou dois lotes de terra do assentamento, por cerca de R$ 50 mil cada um.

“Em um dos lotes ele morava e o outro, colocou no nome da sogra, em uma tentativa de mais tarde expandir as terras, porque até então cada pessoa só poderia ter um lote. Só que o José Cláudio entrou nesta área e colocou outras pessoas morando, inclusive seu irmão, e se negava a sair. José Cláudio era como um líder do grupo e enfrentava diretamente dono, impedindo a família de entrar na área”, explica o delegado.

A irmã de José Cláudio, Claudelice, foi informada pelo G1 que a polícia concluiu o caso e pediu a prisão dos três suspeitos. Ela disse que "já sabia" quem eram os autores do crime e afirmou que a área está sob disputa judicial para despropriação.

O crime
O casal foi morto em uma emboscada na estrada de acesso ao assentamento Praialta Piranheira, em Nova Ipixuna, onde moravam. José Cláudio e Maria estavam em uma motocicleta quando foram alvejados por disparos realizados por uma espingarda.

“O alvo era o José Cláudio, tanto que a perícia mostrou que o primeiro tiro foi direcionado para ele, mas ela (Maria) foi alvejada por estilhaços. Se não tivesse morrido em consequência disso, depois, com certeza, teria sido alvo de tiros também”, diz o delegado.

A polícia já havia divulgado o retrato-falado de dois suspeitos de terem executado o crime. O delegado diz que há informações de que os executores não receberam pelo trabalho. “Eles agora foram identificados, temos os nomes e as provas de sua participação. Sabemos que tem um enredo especial, eles tinham uma dívida com o mandante, as informações que temos afastam a possibilidade de pagamento”, acrescenta Maués.

Os três foram indiciados pelo crime de homicídio triplamente qualificado, diz o delegado. Os detalhes do crime estão sendo divulgados nesta manhã em Belém em uma coletiva à imprensa. Uma arma que supostamente foi utilizada nas mortes está apreendida, mas não foi possível confirmar se partiu dela os tiros que mataram o casal.



Retrato-falado de suspeitos de terem executado o casal; delegado diz que eles foram identificados e a prisão preventiva foi pedida à Justiça (Foto: Polícia Civil PA/Divulgação)

Denúncias
No dia do assassinato, Claudelice Silva dos Santos, irmã do ambientalista, afirmou ao G1 que o casal possuía inimigos. As vítimas teriam registrado queixas, na delegacia de Marabá, pelas ameaças constantes que sofriam.

“Nós somos ambientalistas e envolvidos com o movimento social. Muitos fazendeiros e madeireiros tinham interesse em que meu irmão e a mulher não atrapalhassem mais. Eles faziam denúncias de desmatamento, grilagem de terras e sempre foram ameaçados, mas nunca imaginamos que essas ameaças seriam consolidadas”, afirma.


“Muita gente tinha interesse na morte dele, porque realmente fazíamos as denúncias de crimes contra o meio ambiente. Temos certeza de que foi um crime que teve mandantes. É do interesse da família que se faça Justiça, não vamos deixar que isso fique impune como tantos outros aqui.”

Para a Polícia Civil, o casal não foi morto nem por agricultores nem por fazendeiros ou grileiros, mas por uma disputa interna entre eles no assentamento, diz o delegado.

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