domingo, 9 de janeiro de 2011

Mateus, seis anos de idade, um Scorsese no Táxi em Movimento...

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Mateus, seis anos, entrou resoluto saltando prô banco traseiro do meu táxi logo dando boa noite e determinando como destino o Shopping Botafogo...

Antes mesmo que sua avó sentasse ao meu lado e sua mãe no banco de trás...

Mateus é afirmativo e não deixa margem para dúvidas...

Só que Mateus é incisivo sem perder a doçura...

Mateus é carismático...

Fiquei provocando o Mateus...

O mais bacana foi que sua avó e sua mãe não interviram a menos que fosse solicitado socorrro...

A mãe do Mateus reclamou da demora da avó do menino demorar a entrar no carro enquanto o menino me informa seu nome...

A avó se desculpou olhando prá mim;

- É que sou velha...

- Não estou vendo nenhuma pessoa velha aqui neste carro...

Mateus não perdoou:

- Ela já é avó....

Parto em socorro:

- Caramba, Mateus, eu também sou avo; tenho netos da sua idade...

Mateus:

- Mas o senhor ainda dirige, não é velho...

Mateus me confessa que tem um avô muito velho chamado Saul...

Mateus me conta que avô Saul vive em outro país...

- Ele mora longe, muito longe, nunca mais ele me visitou... Ele fala outra língua que não entendo...

- Quantos anos o avô Saul tem, Mateus?

- Ele é muito velho; mas ainda não fez várias vezes 100, as pessoas só vão embora depois que passam de muitos 90... Mas não dirige mais...

- Mora na Alemanha, Estados Unidos, França, Itália, Portugal?

- Não sei... Mãe, meu avô mora aonde mesmo?

A mãe do Mateus me confessa que Saul na realidade é tataravõ de Mateus, nasceu em Sergipe e já foi-se há muito sem que o menino o tenha conhecido...

Mateus não concorda, Saul ainda está vivo já que não chegou aos vários 100 anos possíveis para ir embora...

No imaginário de Mateus, o avo Saul ainda está totalmente presente...

No intervalo, enquanto Mateus olha prá rua, brinco com sua mãe dizendo que estes devaneios do seu filho me relembra o filme Ilha do Medo em que o diretor Martin Scorsesenos enfia numa loucura de história em que ficamos assistindo sem entender o que é real ou imaginário...

A mãe de Mateus também assistiu o filme estrelado por Leonardo di Caprio...

Acho a criatividade de Mateus parecida com o Scorsese...

Sensacional Mateus que a toda hora toca sua mão pequena no meu ombro para não me permitir distrair da narrativa...

O mais saboroso em Mateus é que ele acredita mesmo nas coisas que vai narrando e se recusa ser desmentido rindo de qualquer outra versão...

Logicamente que deduzi rapido que Mateus é filho único...

Crianças solitárias ficam devaneando com personagens perfeitas incluindo avos que falam outros idiomas e amigos imaginários...

- Mateus, voce tem irmãos?

- Tenho quatro... Não, não; cinco!

Me conta o nome de dois meninos e tres meninas suas irmãs; que ele gosta muito...

Fico achando que, pela primeira vez, me enganei...

Que nada...

A mãe de Mateus sussura que são primos e primas...

Mateus tá nem aí...

Pega o dinheiro da mão da mãe e paga a corrida perguntando se está certo ou tem troco...

Este Mateus maravilhoso vai ser cineasta ou roteirista...

Conto prá sua mãe que tenho um blog chamado 'Táxi em Movimento' e vou citar meu novo amigo Mateus...

Acho que ela não acredita muito...

Tomara que ela encontre a citação de meu encontro com Mateus por aqui...

Eu até poderia ter lhe dado o endereço completo do blog para me localizar...

Não teria graça alguma...

Estes presentes do destino só valem pelo inusitado quando daqui vinte anos Mateus adulto se encontrar no menino retratado na Rede por um taxista que lhe deixou na porta do Praia Shopping Botafogo...

A gente vai deixando pegadas na Internet...

Para várias décadas depois alguém encontrar...





Jorge Schweitzer











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