quinta-feira, 16 de agosto de 2012
Inhaúma, Área de Melissa
Foi há cerca de uma hora...
Sujeito soturno quanto eu apanha meu táxi:
- O senhor me leva em Inhaúma? Vou ficar ao lado do cemitério...
Titubiei...
Lembro que houve tiroteio intenso na área entre a Maré e pedágio da Linha Amarela na Água Santa há pouco...
Minha lógica doida imagina filmar desdobramentos no retorno...
- É dentro de favela?
- Vou ficar fora, fica tranquilo, lá é 'Melissa'...
Melissa acho que sandálias de mulher...
- Melissa?
- É área de Melissas, amigo!
Quase todos habitantes de áreas onde narco-traficantes foram expulsos assim chamam as milícias...
Sigo...
Cabreiro, prefiro o silêncio que antecede o risco...
Ele conversa enquanto entramos na Rodrigues Alves...
- Taxista que tem medo não deve circular...
O trânsito pára....
Olho aqueles terrenos de escolas de samba com carros alegórios na Gamboa...
Falo de carnaval...
Ele tem um olho parado e outro que circula...
Como eu...
Arrisco...
- O senhor mora lá?
- Há 37 anos...
- Local tranquilo?
- Não! Lá o bicho pega, assombra, vou ficar do lado de fora, não precisa entrar... Dentro em breve sairei de lá... Estou mudando para ao lado do Engenhão...
Começo acreditar que não tenho mais nenhuma desculpa para retroceder...
Nem mais recurso de jurar que o carro esquentou...
Daí?
Putz...
Arrojo:
- O senhor trabalha em quê?
- Reciclagem!
Pronto! Bingo!
Eu sabia que o conhecia...
Há uns cinco anos...
Ele é muito sério e com cara de aborrecido mas coração mole...
Possui uma loja na Rua dos Inválidos, acolhe catadores de rua que entregam suas carroças sem rabo...
Diversas vezes necessitei estacionar 'é rapidinho, quebra esta' na porta da sua loja para almoçar no Sabor de Minas e ele apesar de carrancudo jamais negou...
É o jeito dele...
Alma leve em sembrante rude...
Desemboco na saída cinco da Linha Amarela...
Poucas horas atrás houve confronto logo a frente com direito a metralhadora ponto 30 com bucha de 17 anos atirando...
Informa o nome das favelas da área que sequer armazeno uma...
Salta...
Pronto...
Agora, entro em ação...
Nada!
Meu celular acaba a bateria...
Dou várias porradas no aparelho tentando ressuscitação...
Puta que pariu!
Nada...
Só fui até lá pensando em vocês...
Não deu...
Perdi viagem...
Fica prá próxima...
Jorge Schweitzer
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