sábado, 3 de março de 2012

Janela, basculante: quarto de dormir

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Semanas atrás peguei uma passageira que chorava...

Sua senhoria pediu que mudasse...

Estava sem rumo...

Adora sua casa...

Cada curva de suas portas conhece no escuro...

Cada interruptor...

Cada janela e basculante...

Ali passou grandes momentos...

Sua bicicleta na garagem...

Sua planta na janela...

A cortina esvoaçante...

Os sons dos móveis de madeira que se modificam quando o sol chega abrasador...

O cheiro de mar que corroe a memória de seu computador...

Seu endereço...

Suas contas na caixa da portaria...

Suas esquinas...

O moço que trança assentos de cadeiras debaixo da marquise...

Seu jornaleiro...

Seus amigos da lanchonete...

O café pingado com misto a escorrer o queijo na manhã...

Seu jornal aberto na primeira desgraça do dia anterior...

O vento que bate forte nas ruas transversais da praia...

A língua negra na areia branca...

Guarda-sóis...

Seu Posto 4...

O caminhão barulhento da Comlurb atravancando a Barata Ribeiro...

O mendigo a dormir sobre o papelão ao lado da lavanderia da Santa Clara...

Os pedintes chatos na porta do Bradesco da Copacabana...

Os catadores de latinhas que reviram todos seus lixos...

O cego de bengala que ela empresta esmolas a purgar suas culpas...

O menino pés descalço que irá surrupiar seu celular que bate fotos...

Suas referências...

Até já havia se acostumado com os porteiros pozudos sentados na portaria como executivos argentinos...

Descreve a tapioca do ambulante com chocolate...

O churrasquinho da madrugada com cerveja em lata...

O congestionamento infernal e saudoso na sua porta...

Os cachorros pit-bull sem focinheiras...

Queria continuar por ali...

Confessa ser igual gato...

Chorou...

Não queria mudar...

Fico sem palavras...

Sou igual cachorro vadio...


Adoro mudanças...

Só me basta um quarto de dormir...



Jorge Schweitzer





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