Tudo é passageiro... Menos o taxista!

Existe necessidade humana de nos mostrar maiores e melhores...

Alguma lógica faz com esta volúpia seja exercitada com simplório chouffer taxista que não terá condições de comprovar veracidade dos fatos...

Jamais presenciei algum passageiro a confessar que acabou de tomar um tapa ou uma dedada...

Em todas viagens só transporto heróis e vencedores...

Sempre!

Possuem pelo menos dois filhos estudando do exterior...

Dois cachorros que só restam falar...

Um neto gênio internauta que aos cinco anos escreve e lê em três idomas...

Três jovens formosas amantes com quarenta anos menos que o amam tresloucadas sem nenhum interesse pecuniário e nem se importam com sua inhaca de velho...

Por vezes o imaginário infundado ultrapassa todos limites e fico imaginando porque o aboletado cidadão ainda utiliza um simplório táxi ao invés de seu hiper helicóptero ou sua super capa...

Nossa solidão automobilística nos desenvolve o poder criativo da mentira compulsiva como defesa...

Taxista só é mentiroso pescador do asfalto para se vingar...

Dias desses...

Um senhor pegou meu táxi na porta da Petrobrás...

Primeiro ensaiou conversa amiga até me capturar como seu ouvinte...

- Sabe, não gosto de carnaval, existem muitos blocos...

- Sei!

- Fico recluso em meu apartamento na Rua Santa Clara... No último, fiquei na internet direto e comprei 15 relógios antigos em sites e aproveitei para adquirir peças para meu Porsche Spider 550.. Coleciono relógios e carros antigos...

Me senti tentado a comentar que conheço um maravilhoso colecionador amigo que tem um fusca 69 a reformar para vender e um alambique para tornar sua vida mais interessante depois do sujeito contar que possui cinco fuscas na garagem...

Melhor não...

Contei que meus únicos carros zero foram um chevette verde a alcool 82 e um Fiat 147 que na realidade foi adquirido por uma esposa arquiteta espanhola que me separei e fui beber no Bar do LM da Glória até ficar sem condições de dirigir minha motocicleta e meus amigos, sem saber da comemoração, me levaram de volta para meu antigo endereço onde fui recebido com euforia pela moça imaginando que eu havia me arrependido da separação...

Ele nem ligou para meu infortúnio engraçado...

Declarou que presenteou com dois 147 sua esposa quando casou...

Jamais poderia supor que ninguém compre sequer um 147 para alguém, quanto mais dois...

Atualmente meu passageiro disse possuir uma Pajero seu lá o que para ir até seu sítio em Itaipava, mais um Civic para se locomover até a Avenida Chile...

Pagou a corrida...

E...

- Não estou conseguindo abrir minha porta!

- Como todo automóvel que o senhor possui, basta levantar o pino acima antes de puxar a maçaneta...

- É mesmo!





Jorge Schweitzer