Ser taxista é bom...
Mas pode exasperar fatores inatos de comportamento alheios a razão...
Característica de atividades automáticas e repetitivas...
Passo a acreditar – lunático e frenético - que tenho poderes extra-normais de adivinhação...
E nesse delírio ambulante me sinto à vontade para tentar encaixar, como num quebra-cabeça, cada cidadão acomodado em meu banco traseiro numa atividade compatível com seu perfil:
Zen, semblante tranquilo, olhar divinal, voz aveludada, gestos leves, sorriso esboçado no canto dos lábios:
MÉDICO
Treinado a nos induzir que devemos parar de fumar, de beber, alimentarmo-nos corretamente e abandonar o sedentarismo sob pena de morte sem que possamos considera-lo carrasco que ceifa prazeres mínimos e inabandonáveis...
Paletó, gravata, contestador, quando lhe indico um caminho duvida, quando lhe exponho uma opinião apresenta outra:
ADVOGADO
Colete de brim com incontáveis bolsos, rabo de cavalo e brinco:
FOTÓGRAFO PROFISSIONAL (ou Ministro do Meio Ambiente)
Ouvinte, atento, deixa-me discorrer longamente sobre diversos assuntos intercalando com perguntas casca-de-banana:
JORNALISTA
Aperta minha mão e me abraça sem nunca ter oportunidade de me ver mais magro e acha correto tudo que descrevo:
POLÍTICO EM CAMPANHA
Passageiro com características de pânico, suor na face apesar do ar ligado, meticuloso, fala sem me olhar, concorda e logo após discorda sobre o mesmo assunto:
ANALISTA DE SISTEMAS
Explicativo, detalhista, preocupado se entendi a explanação:
PROFESSOR PRIMÁRIO
Barba por fazer, roupa suja de graxa, palito no canto da boca, pelo menos dois anéis - um no dedo minimo outro de São Jorge - irritado esbravejando palavrões:
TAXISTA VOLTANDO DO MECÂNICO...
Jorge Schweitzer
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