Matéria de Herculano Barreto Filho para o Jornal Extra
A rejeição ao assédio de um rapaz, situação corriqueira em tempos de carnaval, serviu de motivação para matar. Ana Elizabeth de Oliveira, de 21 anos, foi assassinada com um tiro na cabeça na madrugada desta Quarta-Feira de Cinzas, no baile da Praça Miguel Couto, em Nova Iguaçu, por ter discutido e trocado empurrões com um jovem, que exagerou na dose durante a investida. Depois de sacar a arma e atirar, o rapaz deixou a cena do crime ao se misturar no meio de uma multidão de foliões.
O crime ocorreu por volta das 4h. A vítima estava no baile, com a prima e um amigo, quando começou a ser assediada pelo rapaz, que teria passado a mão na moça e a encostado na parede. Ela reagiu e tentou afastá-lo. Depois de trocar empurrões, o rapaz sacou uma arma e deu um tiro, à queima-roupa, na testa de Ana Elizabeth. A prima dela e outras duas testemunhas viram tudo. À tarde, prestaram depoimento na 58ª DP (Posse), que investiga o caso.
— A vítima estava pulando carnaval quando o rapaz começou a assediá-la. Ela não gostou e o empurrou. Ele sacou a arma, atirou e fugiu. As testemunhas dizem que não conheciam o assassino. Mas vamos ouvir outras pessoas para tentar chegar ao autor. Foi um crime bárbaro — disse o delegado Marcus Henrique de Oliveira Alves, titular da 58ª DP.
Retrato falado
Depois de prestar depoimento, a prima da vítima foi levada à Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), para ajudar na elaboração de um retrato falado. O suspeito estava de boné, camisa listrada e tinha entre 23 e 27 anos. A polícia, agora, tentará obter imagens de câmeras de vigilância no local do crime para tentar identificar o autor do crime.
Garota cuidava de quatro irmãos
Ana Elizabeth era a filha mais velha de uma mulher que sustenta a família sozinha, trabalhando como acompanhante de um idoso em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Quando a mãe estava trabalhando, ela cuidava da casa e dos quatro irmãos: um adolescente de 15 anos, duas meninas de 12 e 10 anos e um garoto com apenas 2 anos de idade.
A garota, que era torcedora fanática do Fluminense, também gostava de sair com os amigos e os primos para dançar. Frequentou todos os bailes de carnaval na Praça Miguel Couto, em Nova Iguaçu, próximo à casa onde morava.
Nos últimos dias de folia, só costumava voltar para casa quando já estava amanhecendo, sempre com um grupo de amigos. Segundo uma prima de 19 anos, ela estava se relacionando com um músico de um grupo de pagode há cerca de três meses.
— Ele foi embora mais cedo, porque estava cansado. A minha prima ficou. Mais tarde, um amigo comprou três cervejas e convidou ela para ir embora. Ela disse que queria ficar. Ela adorava dançar e estava sempre alegre, brincando com todo mundo — lembrou a prima.
Família pede justiça
“Te dei 1 toko(sic)? não seja brasileiro, desista!!!”. A frase consta no perfil da página de relacionamentos de Ana Elizabeth e soa como uma espécie de explicação ao que aconteceu com a garota no baile de carnaval, instantes antes de morrer.
— Sabe como é. Carnaval, todo mundo tenta azarar todo mundo. O cara alisou. Ela fez com a cabeça que não, mas ele continuou. Ela falou: “você está maluco?”. Eles se empurraram e ele decidiu atirar — contou uma familiar, que não se identificou.
No bairro Grama, onde ela morava, familiares estavam consternados.
— Todo mundo aqui está revoltado. Ela era uma menina feliz, que não fazia mal a ninguém. Não merecia isso — desabafou Rita Regina da Conceição, de 78 anos, madrinha da vítima.
A faxineira Luzia Rita da Cunha, de 55 anos, tia de Ana Elizabeth, espera que justiça seja feita.
— Ela era uma pessoa muito querida. Aí, aparece um cara abusado e faz uma coisa dessas. Isso não pode ficar assim — disse.
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