domingo, 19 de fevereiro de 2012

Michele Domingos da Silva (29 anos) e Isabela Monteiro (de 27) assassinadas em Queimadas, Campina Grande PB



Fantástico, Rede Globo

Quando a notícia correu, ninguém queria acreditar. “Nossa Senhora! Mataram a menina de Fátima e mataram a menina de Fuba!”, se espanta a dona de casa Maria José do Rego.

Um estupro coletivo, duas mulheres assassinadas e dez pessoas presas depois de uma festa de aniversário em uma cidadezinha do interior.

“Quem estava na festa, quem estava bebendo, quem estava brincando, quem matou, tudo era amigo”, diz o comerciante Antônio de Melo.

Queimadas, na região de Campina Grande, no agreste da Paraíba, ainda não se refez do choque.

“Triste. Abalou a cidade toda. Quando isso é lá fora, a gente acha meio difícil. Mas aqui? Na cidade da gente?”, lamenta a dona de casa Maria da Silva.

A primeira versão era a de um assalto. Homens vestindo máscaras de carnaval teriam invadido uma festa para estuprar as convidadas. Depois, levaram duas delas como reféns. A recepcionista Michele Domingos da Silva, de 29 anos, foi assassinada a tiros ao lado da igreja da cidade. A professora Isabela Monteiro, de 27, foi encontrada morta em uma estrada vicinal. O cunhado dela reconheceu o corpo.

“Ela estava parada, com o carro parado. Ela, em cima da caçamba, com as mãos amarradas, olhos vendados. A cidade parou com um crime desses”, relata o vendedor Dinarte de Arruda.

Quando o dono da festa foi dar queixa do assalto na delegacia, a polícia começou a desconfiar da reação dele.

“Como é que um crime tão bárbaro que aconteceu na sua residência, durante um aniversário de um irmão seu, meia hora depois você está sorrindo?”, questiona o delegado regional André Luis de Vasconcelos.

Eduardo dos Santos Pereira, de 28 anos, foi preso no velório de Isabela. Um a um, a polícia foi prendendo todos os acusados: três adolescentes e sete adultos, inclusive o aniversariante, Luciano dos Santos Pereira, de 22 anos, irmão de Eduardo.

Isabela morava com a mãe em uma casa de esquina. No mesmo quarteirão, na outra ponta, a menos de 50 metros, fica a casa de Luciano e Eduardo. Quem poderia suspeitar de uma festa em que o aniversariante e os convidados são vizinhos, amigos e alguns até parentes? A polícia da Paraíba já não tem dúvida alguma de que o que houve foi uma armadilha minuciosamente planejada, que resultou em duplo assassinato e em um caso de violência sexual jamais visto na região.

Os policiais encontraram grande quantidade de armas, presilhas e cordas para amarrar as mulheres. O grupo teria preparado o crime com 15 dias de antecedência.

“Inclusive um deles afirma que seria um presente para o aniversário de Luciano, do irmão mais novo de Eduardo. Um presente do Eduardo para o Luciano”, acrescenta o delegado.

A certa altura da festa, apagaram a luz, vestiram máscaras de carnaval e estupraram cinco convidadas. Uma delas era mulher de um primo dos donos da casa, que não sabia de nada. Isabela e Michele foram mortas porque reconheceram os estupradores. Os irmãos Eduardo e Luciano negam tudo e jogam a culpa nos outros.

“Jardel foi o mentor, dizendo que ia fazer isso. Queria pegar as meninas, que ele tinha vontade de ficar com as meninas”, conta Luciano Pereira em um vídeo da Polícia Civil da Paraíba.

Em outro inquérito, a polícia investiga a ligação deles com o traficante Nem, do Rio de Janeiro. A família de Nem tem origens na cidade de Queimadas. Eduardo já morou na Rocinha. Ele não trabalha e tem alto padrão de vida.

“Possuiu carros novos, cavalo de raça e vive sem nunca trabalhar, sem bater um prego em uma barra de sabão”, reforça o delegado.

A prefeitura cancelou o carnaval de rua. A juíza da cidade proibiu o uso de máscaras mesmo nos bailes de salão. Este ano, o que haverá em Queimadas são protestos sentidos e manifestações de solidariedade, como uma em frente à casa da família de Michele.

“Não tem ninguém que possa falar mal daquelas meninas trabalhadoras. Michele, por exemplo, era tudo nessa família. A gente dependia inclusive financeiramente dela”, conta Maria Domingos, mãe de Michele.

Na noite do crime, muito amigas, Michele e Isabela foram juntas à missa, comungaram e saíram direto da igreja para a festa. A mãe de Isabela teve um pressentimento e chegou a mandar uma mensagem no celular da filha.

“Vem para casa, já está tarde. Aí só sei que não teve resposta”, diz Maria de Fátima Monteiro, mãe de Isabela.

Uma hora depois, recebeu a notícia do assassinato. “Criamos nossa filha com muito amor. Sair de dentro do seu ventre, criar, crescer, educar, para depois ver se destruir assim, por malvadeza? Nada vai trazer ela de volta, mas que a justiça seja feita.”

Na noite anterior ao seu assassinato, Isabela postou na internet a bela adaptação de Jorge Ben Jor da oração a São Jorge. Para os amigos, era uma premonição, um temor intuitivo. Diz a canção: “Para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem. Armas de fogo, meu corpo não alcançarão”.


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