segunda-feira, 18 de julho de 2011

Entrevista com o morador de rua Raimundo Arruda Sobrinho, o Escritor, que protesta contra o blog da Bethania...

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Sidnei é nosso parceiro do Táxi em Movimento...

E sempre disposto a participar colaborando com a gente...

Prometeu e cumpriu que iria conversar com o Raimundo para postarmos por aqui...

Acompanhem...


Jorge Schweitzer





Cristiane Bomfim - O Estado de S.Paulo


SÃO PAULO - Uma escultura amarela de 3,3 metros de altura colocada no canteiro central da Avenida Pedroso de Morais, no Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, tem chamado a atenção de quem passa pelo local. Nem a Prefeitura sabia de sua existência.

Trata-se de um protesto e de uma homenagem. É uma crítica à cantora Maria Bethânia, que em março teve a autorização do Ministério da Cultura (MinC) para captar R$ 1,3 milhão e criar um blog de poesia, e um tributo ao morador de rua Raimundo Arruda Sobrinho, de 74 anos, que vive há mais de 17 na Pedroso.

O personagem de cabelos roxos representa a artista e carrega um saco de dinheiro, por conta da polêmica. "A gente fica indignado em ver muitos artistas bons com projetos baratinhos e importantes sendo rejeitados pelo MinC enquanto um blog de poesia pode captar mais de R$ 1 milhão", argumenta o artista plástico Waldemir Felício Pimentel (mais conhecido como Toso), de 53 anos. A homenagem vem na escolha do local: ele colocou a estátua na altura do número 1.956 da via na madrugada de segunda-feira. "Queria fazer esse contraste. O seu Raimundo é um artista, um poeta, e passa o dia escrevendo de graça. Recebe das pessoas só o necessário para sobreviver", diz Toso.

Mas seu Raimundo não quer nem saber da estátua. Permanece de costas para ela. "Não tive vontade de olhar para ela e não sei se vou ter", disse ontem à reportagem. O homem vestido de preto tem os cabelos crespos e compridos como a obra de arte. Não incomoda ninguém. Acena quando chamam seu nome e passa a maior parte do tempo fazendo anotações.

"Não são poesias. São coisas particulares. É sobre a minha vida que escrevo", explica o morador de rua. Seu Raimundo considera até uma "ofensa" ser chamado de poeta. "Desde 1976 eu não sei nada de mim. Hoje sou um escravo, vigiado noite e dia por homens invisíveis. Eu gostava de ler e tiraram esse gosto de mim. Hoje não sinto mais nada quando abro um livro." Segundo um vigilante da Biblioteca Municipal Álvaro Guerra, há três anos era comum a presença do morador de rua entre as estantes de livros. "Ele vinha uma ou duas vezes por semana, geralmente de manhã", contou o vigia que não quis ser identificado.

Procurada, a Assessoria de Imprensa de Maria Bethânia informou que o protesto é em vão, pois a captação de recursos não ocorreu e a cantora desistiu do projeto. Toso conta que essa é a primeira intervenção urbana, de um total de dez. "Quero espalhar uma por mês na cidade."

Procurada, a Subprefeitura de Pinheiros informou que realizará vistoria no local e adiantou que manifestações sem autorização podem ser multadas em até R$ 500.

Um comentário:

  1. Legal! Assisti a entrevista e o Raimundo parece ser um sujeito bacana. Chamou-me a atenção ainda as tantas árvores daquela região. Vale lembrar que São Paulo NÃO é aquilo que se viu nas boas imagens do entrevistador, com todas aquelas árvores e ruas espaçosas e com trânsito fluído. São Paulo é exatamente o oposto disso, infelizmente. Assim como opostos são a condição da existência do morador de rua Raimundo e os milionários que moram naquela região. Bairro de pobre não tem árvore, curioso isso.

    Escreverei uma carta ao governo solicitando que o dinheiro do imposto que eu pago em absolutamente tudo, mais o dinheiro que me é garfado do salário, não acabe indo para a caríssima poesia da Bethania. Se pelo menos uma migalha desse valor acabar nos bolsos do poeta e morador de rua Raimundo, dá pra ele se imaginar tão milionário quanto os vizinhos dele.

    Otávio

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