sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Folhas de Inverno






Levava meu filho de motocicleta à escola no inverno de Florianópolis...

De capacete, todo encasacado e seu olhão colorido e bochechas vermelhas de fora com a viseira levantada...

Ele tinha uns quatro anos de idade...

Rodrigo, sentado acima do tanque, ia buzinando chato...

Pedia para eu correr...

Quando chegava na frente do colégio buzinava ainda mais para chamar atenção dos colegas e sua mãozinha minúscula ficava puxando o punho do acelerador até o final naquele esporro de moto que ninguém suporta...

Muito mala...

Era meu intervalo de almoço na Coca Cola...

Eu coordenava uma rota de caminhões que faziam entregas...

Certa vez passamos por um, no trajeto, e parei para dar algumas intruções...

Rodrigo ficou fascinado com aquele trambolho grandão...

- Pai, quero ir de caminhão até a porta da escola. Vai, vai, vai, por favor pai!

Fui...

Deixei a moto e subimos na cabine que eu mesmo dirigi com ele no meu colo me ajudando no imenso volante...

Ele com cara de felicidade que eu imaginava que jamais esqueceria...

Acho que ele não lembra mais...

Meu sacrifício, de ter que explicar na diretoria mudança de itinerário de caminhão da empresa, foi em vão...

Chegamos na escola com Rodrigo deliciado em buzinar as cornetas do caminhão estrondeando a rua inteira...

No retorno sua mãe ia buscá-lo...

A mãe chegava invariavelmente com uma flor no cabelo que o Rodrigo capturava no jardim em frente de casa e lhe dava cheio de carinho...

Quando eu chegava...

Rodrigo me presenteava com algumas folhas e gravetos que igualmente catava pelo caminho...

Eu ria amarelo da diferenciação do presente, meio chateado, lógico...

Depois, sabia que Rodrigo demorava muito selecionando as folhas do inverno e gravetos que mais se pareciam comigo:

- Não, mãe, esta folha meu pai não vai gostar!

Mães ainda reclamam que sofrem no maravilhoso paraíso...

Que nada...




Jorge Schweitzer







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