terça-feira, 7 de agosto de 2012

Copacabana e Solidão





Conheço cada calçada de Copacabana...

Cada meio fio...


E, aos poucos, vou desvendando cada solidão...


Já contei inúmeras histórias por aqui dos velhinhos de Copacabana...


Ontem conheci mais uma...

Apanhei uma senhora na praça que fica no meio do Bairro Peixoto...


83 anos de idade...


Caminhava com dificuldades...


Tem inúmeros parentes...

Vive só...


Completamente...


Agradece aos céus de possuir aposentadoria e aplicações financeiras que lhe proporcionam conforto...


Seu filho mora próximo, sequer lhe telefona...


Suas duas outras filhas só tem notícias na época do Natal e no Dia das Mães...


Vive com uma empregada que vai embora às quatro da tarde e retorna no dia seguinte...


Até pouco tempo tinha ânimo para ir ao cinema, teatro e shows que vans iam apanhá-la em casa...


Entrou em depressão recentemente...

Não sabe a razão...


Foi pega de surpresa...

Ficou sem chão...


Tentou pedir socorro...


Cada qual estava ocupado com suas vidas...


Sem tempo para acudí-la...


Encolheu-se em solidão...


Tem uma sala do apartamento coberta de livros que já não tem ânimo de abrí-los...


Assiste TV sem som...


Fica captando os barulhos da rua...


O bucolismo do Bairro Peixoto - apesar que encravado no centro de Copacabana - lhe causa tédio...


A toda hora se desculpava pelo desabafo...

A única pessoa que lhe chama para sair é uma neta...


Aproveita, invariavelmente, para lhe pedir dinheiro emprestado...


Ela sempre dá...


É seu último elo com a civilização grupal...


Não pode perdê-lo...

Almoçam em algum restaurante charmoso de Copa...


Quase não conversam...


Sua neta fica no celular o tempo todo...


Antes da neta ir-se lhe acompanha até o Zona Sul onde enche um carrinho de compras para abastecer o apartamento do namorado que não trabalha...


Ela paga, sem reclamar...


Sonha algum dia conhecer o tal apartamento que só imagina o que tenha na dispensa...


Vai tocando a vida...


Sem sonhos...


Só sombras e solidão...


Voltando a posição fetal de outrora...


Quando ocorrer o fim?


Haverá um burburinho de parentes...

Disputarão seus últimos vestígios...


Tomara que ela retorne para puxar o pé deles...


Todos...


Tomara...




Jorge Schweitzer




Publicado em 05/junho/2010
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3 comentários:

  1. Quem sabe amanhã, quando eu for ao Rio, mais precisamente em Copacabana, fazer um curso, não entre em seu taxi e comece a desabafar também? Você me escutaria com essa paciência?

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  2. Não sei...
    Nenhum de nós sabe em qual dia estaremos ou não com paciência...
    Quem me acompanha sabe o quanto sou impaciente e sempre mostro esta face por aqui...
    Mas...
    Estas coisas a gente não se programa a virar confessionário, acontecem...
    Existem dias inversos que preferimos usar ombro alhei ou simplesmente calar...
    Sofro da Síndrome de Chaves 'ninguém tem paciência comigo' e fico quieto no meu canto quanto o tempo me está nublado...
    Ninguém é 'bonzinho' o tempo todo a menos que viva num mundo paralelo do faz de contas para estampar virtudes por aí...
    Marcar encontro com expectativa de encontrar um taxista com soluções do mundo e sentimentais estilo Paulo Coelho, Lobsang Rampa ou Khalil Gibran na ponta da língua tem tudo para se transforma em decepção...
    Mas...
    Desabafe com alguém...
    Pode até ser um taxista que você jamais retornará encontrar...
    A maioria são ótimas pessoas como reflexo da sociedade onde os maus parecem em maior quantidade por nos incomodarem pela audácia...
    E...
    As melhores soluções vêm de tanto repetirmos nossos questionamentos até nós mesmos encontrarmos o caminho de fuga...
    Se algum dia você fizer sinal na rua para um táxi e por acaso me encontrar saberá que tenho dias sim e dias não...
    Bom curso!
    Abraço,


    JS

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  3. É claro que você está certo. Nunca gostei de frases feitas nem de livros de auto-ajuda. Muito menos alguém citando essas coisas. Mas é porque você disse que largaria tudo... Carreira, dinheiro, canudo... Pensei que isso não seria problema. E como você ainda se mostrou tão receptivo a me conhecer... Mesmo eu dizendo que o povo exagerou...Mas tudo bem. Pego um taxi pré-tarifado na rodoviária. Ainda me confundo ao andar de carro pelo Rio.

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