sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Um menino em Copacabana...

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Leozinho não conhecia o Rio de Janeiro...

Jamais havia saído de sua pequena cidade onde se tornou um dos inúmeros amigos do meu filho...

Os coloquei dentro do carro e partimos...

Pela estrada contavam cada montanha...

Paramos para lanchar o que tivessem vontade...

Chantagiei que se ficassem com a barriga embrulhada retornaria...

Nesta primeira vez que Leozinho esteve em Copacabana ficou maravilhado com aquele mundão cheio de mar...

Leo e meu filho Rodrigo eram crianças e mesmo com o coração aos pulos deixei ambos sairem sozinhos com a prancha de morey boogie e uma bola de futebol debaixo do braço a caminho da praia...

Eu tinha que trabalhar naquele domingão de sol...

Eles almoçariam na casa de uma tia do Rodrigo na Rua Xavier da Silveira e o lanche seria em outra da Leopoldo Miguez...

Quando retornei as seis horas da tarde eles ainda não haviam retornado como combinado...

Chegarem esbaforidos, molhados e cheios de areia que só conseguiram limpar os pés no chuveiro da garagem do prédio...

Rodrigo com aquele olhão colorido arregalado e Leozinho com cara preparada para tomar um esporro...

Calado, preparei sanduíches de tres andares, coca-cola e ficaram com aquela cara de bunda comendo e vendo TV...

- Como é que foi?

- Pô, tio! Foi mal, mas a vontade era não sair da praia que está ainda cheia... Desculpa!

- Então, podem voltar e quero os dois as nove horas em ponto de volta!

- O senhor tá de sacanagem?!

Voltaram correndo antes que eu mudasse de idéia...

Rodrigo tem uma capacidade impar de andar em grupo e fazer amigos...

As férias de Leozinho acabaram...

Ficou uma tristeza enorme lá em casa medindo cada instante da despedida inevitável...

Leozinho foi adotado pelos amigos do Rodrigo da Hilário de Gouveia...

Leo e Rodrigo brincando e fazendo algazarra bobilda enchendo o apartamento...

Deu um vazio imenso imaginando que aquele menino iria embora...

Na última noite pintamos o rosto do Leozinho com pasta de dente que só percebeu ao acordar...

Lembro quando ele me abraçou na despedida em silencio...

Dei-lhe um cascudo para disfarçar a emoção...

Enquanto dirigia mirando a Lagoa Rodrigo de Freitas para pegar o Tunel Rebouças preferia fazer o primeiro retorno a não permitir que Leozinho fosse embora...

O tempo passou...

Rodrigo sempre presta contas como tem gastado sua grana...

- Pai, hoje troquei o pneu da bicicleta e rachei uma bola Nike com o Leozinho...

- Quem é Leozinho?

- Pô, pai, tá me zoando, o Leozinho...

Leozinho e Rodrigo agora são grandalhões...



Domingo, estará cada um com suas namoradas e a bola Nike ficará de folga...

- Pai, eu pedi para trazer a bola prá casa e o Leozinho achou melhor guardar na dele... Hahahahahaha... Leozinha é foda...

Por quê estou contando isto?

Sei lá?

Acho ótimo a palavra pai pronunciada por meu filho...

Pai...

Eu queria ser melhor ainda...

Muito...

Nem sempre é possível...

Tenho tentado...

Uma hora acerto...

Mas...

Todas nossas histórias, sons, silêncios e sentimentos permanecem...

Intactos...

Para sempre...



Jorge Schweitzer


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