segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Jorge Schweitzer em... Um corpo que cai...





Vertigo é a congestão auditiva dos canais semicirculares nos humanos...

Nos cavalos, desordem dos movimentos por compressão encefálica...

Hitchcock descreveu em 128 minutos um detetive com medo de alturas...

Vertigo...

Um corpo que cai...

Também tenho medo de alturas...

Muito...

Nem sempre foi assim...

Já tive oportunidade de flanar solitário de asa delta desde o plato da Estrada das Canoas passeando por sobre os ventiladores do teto do Hotel Nacional até deslizar no Pepino...

Acho que ainda tenho fotos dentro do casulo...

Existe também foto de meu pai assustado segurando meu tornozelo após eu subir na mureta do Corcovado para meu irmão fotografar o Rio de Janeiro inteiro por trás da minha pose...

Passei a ter pânico por alturas após presenciar uma mulher se jogar de um prédio...

Na minha frente...

Troquei frases com ela...

Antes dela se arremessar para o nada...

Num final de ano na Avenida Gomes Freire...

Ela estava no nono andar, eu no segundo...

Seu corpo nu segurando a borda da soleira sem como retornar...

Implorei por todos deuses que não me acudiram...

Uma senhora na janela do décimo andar com bíblia na mão interrompeu nosso diálogo crente em professias doutrinadas por idiotas...

- Em nome de Jesus, determino...

Foi a senha e a derradeira frase suicida...

- Em nome de Jesus é que vou me jogar...

Antes do impulso esbugalhou seu último olhar na minha direção sorrindo...

Segurei a moça que estava ao meu lado para não ver o impacto no térrreo...

E...

Xinguei todos palavrões que jamais imaginei contra o corpo inerte...

A imensa platéia abismada com minha reação...

Passamos toda nossa existencia preservando integridade e de repente...

Alguém resolve se exterminar...

Contraria a lógica humana...

Nunca mais consegui subir sequer em escada...

E, dispenso terapia, dispenso...

Prefiro que seja assim...

Estou quase me recuperando...

Estou pensando novamente voltar a voar...

De asa delta, claro...



Jorge Schweitzer







4 comentários:

  1. pois é, caro Jorge.

    Essa história você escreveu anteriormente e sempre que leio fico impressionado. Fique à vontade pra repetir mais 500 vezes. Não cansa não. Ao contrário, cada vez soa mais intenso e mais significativo.

    Porque soa intenso? não tanto pelo suicídio da moça infeliz, mas pelo fanatismo e presunção autoritária, pela ignorância e alienação daquela que gritou para ela.
    Ao invés de uma palavra de amor, uma ordem em nome do tal milagreiro que andou sobre as águas, fez reviver um sujeito mandrake, multiplicou uns pães e vinho.

    Uma coleção raquítica de milagrinhos fajutos, coisa muito comum na época. Tanto que a sede e a fome continuaram a dizimar milhões de pessoas. Tanto que milhares de pessoas maravilhosas morreram e não foram ressuscitadas, tanto que ao andar sobre as águas, seria muito melhor sair voando, esse sim um atributo milagreiro decente, não essa coisa de molhar os pezinhos num laguinho raso e inexpressivo. Mas um punhado de mentirinhas ridículas, um discurso abobado numa época ainda mais tola e uma boa propaganda movem montanhas. E assim nasceu "o cara" lá trás.

    E portanto a tal senhora tinha que exaltar o nome do coitado "do cara" zé mané justamente na hora que a suicida mais precisava de algo verdadeiro, de amor real, de um sorriso sincero. NÃO DESSA idiotice FANTASIOSA de igrejas, dessas mentiras medíocres que envolveram os séculos em preconceito, estupidez, fanatismo e ignorância.

    A suicida precisava é do antigo namorado gritando alguma palavra de nostalgia. Isso pararia o tempo e ela voltaria para o que já não é. Seria um flerte com o passado, muitas vezes suficiente para manter-nos em direção ao futuro. Mas não, foi obrigada a ouvir a baboseira mentirosa, a trágica hipocrisia corrupta saindo da boca velha de uma ignorante presunçosa: "Em nome de Jesus, determino...". ARGH...

    Quem está a beira do suicídio procura um filete de verdade e não o empurrão pra morte que é, afinal de contas, só o que essas merdas de religiões sabem fazer.

    Desculpe se ofendi alguém. Mas honestamente essa ofensa não é nada se comparado com a ofensa religiosa que é vomitada sobre nossas cabeças dia após dia.

    Otávio

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  2. Não me ofendou, mas tá desculpado Otávio...
    Aos poucos você vai deixando marcas pelo caminho que nos permite compreender o porquê da sua indignação. Se tem uma coisa que aprendi foi amar e respeitar as pessoas do jeitinho que elas são, e com você não poderia ser diferente.


    Como sempre digo cansei desse assunto, quem sabe a noite quando tiver mais disposta.

    Marinalva

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  3. É curioso como algumas mensagens para a assassina de cachorros dizem pra ela entregar tudo a deus e esquecer do que aconteceu, começar uma vida nova. Foram várias mensagens que ela recebeu dizendo isso. "Esqueça o passado. Entregue-se a deus".

    LEIAM DIREITO ESSA FRASE ACIMA. Vejam o PERIGO, a VIOLÊNCIA presente nessa frase. Ou seja, MATE a vontade, cometa qualquer violência. Depois é só se voltar pra mentira institucionalizada que você estará "salvo".

    Realmente fica complicado querer que um planeta melhore enquanto tivermos essa mentalidade totalmente conivente, totalmente alienada.

    TRÁGICO.

    Otávio

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  4. A mensagem cristã diz que todos são iguais perante Deus, todos estão sujeitos as mesmas paixões, os mesmos erros, as mesmas transgressões, assim como todos tem o direito de demonstrar arrependimento pelos erros cometidos e receber o perdão.
    Não é esquecer e sim arrepender-se e mostrar frutos desse arrependimento.
    Outro dado importante e que Deus perdoa, e já pagou pelos nosso erros. Ao demonstrar arrependimento diante de Deus, não precisamos mas pagar o que já foi pago.

    Mas diante dos homens, não basta o arrenpender-se, é preciso pagar a dívida. É o que essa moça precisa fazer pagar pelo que fez.

    Se cometo um crime, e posteriormente me arrependo amargamente, pedindo perdão a Deus, o perdão Divino não me isenta da pena ou da cadeia.

    Marinalva

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