
Paolla Serra
Na madrugada de 10 de junho deste ano, dois homens jogaram na Rua Joaquim Murtinho, perto dos Arcos da Lapa, o corpo da portuguesa Rosa da Cunha Viana, de 79 anos. Agora, seis meses depois, a Polícia Civil garante ter desvendado o crime, uma história tortuosa como os trilhos do bonde de Santa Teresa sobre os quais a idosa foi abandonada. Uma trama que envolve ganância, traição, sexo, religião e um policial militar.
Nesta segunda-feira, policiais da 5ª DP (Mem de Sá) prenderam o cabo do Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (BPTur) Harrison Pragana da Trindade, de 32 anos, e o auxiliar de serviços gerais Damião Eli da Conceição Gomes, de 35 — que tinha um relacionamento estreito com PM. Eles são suspeitos de matar Rosa, fazer 13 saques com seu cartão de crédito, comprar eletrodomésticos em nome da vítima e, depois, jogar o corpo da portuguesa nos trilhos. No início de novembro, reportagem do EXTRA mostrou que a polícia buscava identificar os autores do assassinato.
De acordo com a polícia, Rosa teria conhecido Damião num centro espírita em Santa Teresa. Eles chegaram a conversar algumas vezes e ela disse ter "um problema na Justiça" com um sobrinho. Damião contou que o namorado era policial, e Rosa perguntou se ele não a ajudaria no caso.
Em 8 de junho, sob o pretexto de receber auxílios jurídicos e espirituais, Rosa foi ao apartamento de Damião, no Bairro de Fátima. A portuguesa saiu de casa, na Rua do Riachuelo, às 7h46m, como mostram imagens das câmeras de segurança do prédio.
A polícia ainda não sabe qual o trajeto feito por Rosa, mas o caminho entre o edifício onde morava a idosa e o prédio de Damião pode ser percorrido a pé em cerca de cinco minutos. O certo é que às 9h05m, menos de uma hora e meia após Rosa sair de casa, foi feito o primeiro saque com seu cartão. Nesse momento, ela já teria sido dopada, o que causou sua morte.
Saques, empréstimos e eletrodomésticos
Nas cerca de 40 horas entre Rosa sumir de casa e seu corpo aparecer, a dupla fez, segundo a polícia, sete saques de R$ 130, outros de R$ 910, R$ 520 e R$ 410, um empréstimo de R$ 5.510 e a compra de eletrodomésticos num shopping da Zona Sul. O carro de Harrison, um Meriva prata, foi flagrado por câmeras de segurança no Aterro, em direção à Zona Sul. É o mesmo veículo que aparece nas imagens divulgadas pelo EXTRA, em novembro, deixando o corpo da portuguesa, enrolado em cobertores, na rua.
O corpo da vítima tinha sinais de violência sexual. De acordo com um policial, a idosa teria dado dinheiro ao PM e a Damião em troca de favores sexuais. O delegado Alcides Alves Pereira, titular da 5ª DP, porém, não confirmou a informação.
— Ela (Rosa) foi vítima de um engodo com um suposto auxílio fraudulento. É o extremo da ganância e da maldade — resumiu.
O cabo Harrison está há oito anos na PM. Antes de ser lotado no BPTur, Harrison passou pelo 13º BPM (Praça Tiradentes). Foi patrulhando o Bairro de Fátima, segundo contou em seu depoimento à polícia, que conheceu Damião. O cabo — que está de licença após ter sido baleado num assalto na Taquara, em novembro de 2010 — negou ter um caso com o auxiliar de serviços gerais, mas afirmou saber que ele é homossexual. Contou também já ter ido à casa de Damião "pelo menos três vezes para beber água".
A assessoria de imprensa da PM informou que foi aberto um processo administrativo para apurar o caso, que pode levar à expulsão de Harrison da corporação. O cabo e Damião estão presos temporariamente por 30 dias e responderão por homicídio, estelionato e ocultação de cadáver.
Idade e solidão
Damião disse, em seu depoimento, que conheceu Harrison na rua, em 2009, "passando a manter relacionamento até a presente data". Ele alegou que, após ter recebido com Harrison a portuguesa, foi tomar banho e, ao voltar, Rosa já estava sonolenta. O policial, então, teria dito que "já estava com o cartão da dona Rosa e que iriam sair para fazer uso", já que a senha estava junto. Na volta, Rosa já estava morta.
A portuguesa estava radicada no Brasil há mais de 11 anos, e morava sozinha em um apartamento na Rua do Riachuelo. No mesmo prédio, a aposentada possuía outros três imóveis. No Bairro de Fátima, era dona de mais um imóvel. A idade e a solidão da aposentada, segundo a polícia, teriam facilitado a ação dos criminosos.
De acordo com o delegado Alcides Pereira — que contou com o auxílio da 7ª DP (Santa Teresa) na investigação — ainda há outros casos cometidos por Damião. Que pode, diz ele, ter sido ajudado por Harrison.
PS; Parabéns ao trabalho da Polícia... Sem alarde, pegaram os assassinos da portuguesa... JS
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