sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Walmor Chagas: Solidão e Suicídio






Há cerca de 25 anos... 

Walmor Chagas pegou um navio cargueiro como passageiro e partiu do Rio para a Ásia... 

Era uma época em que não haviam estes cruzeiros luxuosos de agora... 

Alguns navios cargueiros vendiam pacotes com cerca de cinco a dez lugares para pessoas que ousassem se aventurar sem nenhum conforto convivendo com a tripulação no longo curso... 

Não havia TV a cabo, internet, nada... 

Somente rádio por ondas curtas, muitos livros na bagagem e o embrulho do chacoalhar das ondas... 

Walmor Chagas dizia ser seu período de reflexão solitária... 

Não entendo esta compulsão por auto exílio no meio do nada... 

Só de imaginar angustia... 

Solidão até é ótimo ao sabermos que ao abrirmos a portaria do prédio encontraremos uma muvuca efervescente na calçada, na esquina, na próxima rua... 

Abrir a porta do quarto e encontrar um nada de mar aberto sem horizontes é de arrepiar... 

Ninguém resolve seus questionamentos pessoais ou crises de identidade na solidão... 

Precisamos sempre de mais um desafio; de um abraço; de um palavra trocada; de gente em movimento por volta para nos sentirmos vivos... 

Em sua última peça 'O Homem Indignado', Walmor Chagas debateu o suicídio: 

"Nós estamos indo para o abismo. Quem se atirou do décimo andar, por mais que vá passar pelo oitavo, acha que está tudo bem. O Velho sabe que está tudo mal e que irá se esborrachar."... 

Últimamente Walmor Chagas reclamava que suas pernas já não o obedeciam e estava perdendo a visão... 

Escolheu Guaratinguetá como seu esconderijo cemitério dos elefantes em preto e branco... 

Ir embora faz parte, escolher a forma e horário contraria auto preservação natural de acreditarmos que sempre haverão mais alguns próximos instantes felizes por aqui... 

Sempre vale a pena aguardar cenas dos nossos próximos capítulos, nem que seja somente uma participação secundária...

Se Walmor Chagas morasse num minúsculo apartamento de Copacabana provável que fosse até a esquina tomar um cafezinho e seria afagado por alguém anônimo que lhe impulsionaria a continuar mais um pouco ao retornar para sua cadeira de balanço da sala na frente da TV colorida com cão amigo adormecido ao lado do seu chinelo... 

Walmor Chagas preferiu ser dono do seu fim sem despedidas... 

Não deveria... 




Jorge Schweitzer







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