quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Rã com Manteiga







Foi ainda há pouco...

Retiro um punhado de moedas de dentro do antigo cinzeiro do carro...

Não confiro quantas ou o que valem...

Já é noite...

Um casal  magro e negro dorme acima de uma carroça de mendigos mula sem rabo...

Acordo o rapaz:

- Olhe só, não sei quanto tem aqui... Se for muito amanhã tu me devolve...

- Que nada, tio... O pouco para mim é muito, tio!

O 'tio' bate fundo na minha alma...

- Pô, não sou 'tio', cara, 'tio' é otário, coroa trouxa... 

- Foi mal, tio, é maneira de falar com quem me fortalece a parada...

Rio e canto uma antigo samba de breque adaptado a ocasião tio fazendo compasso com a palma da mão e dando ridículos  passos chaplin de sambódromo:

- Sou coroa mas não sou pedaço, pára de dar sugestão; você não é feito de aço e eu não brigo na mão, meu irmão!

A companheira do carroceiro de papelão acorda e fica me olhando  a rir da cena engraçada:

- O senhor é legal e não é coroa não...

- Sou sim, é que fui criado comendo rã com margarina, tanto salto quanto escorrego sem me esborrachar...

Os dois dão uma gargalhada tão alta que uma vizinha chega na janela para conferir...

Pô, só parei para dar uma esmola furreca...

Tudo que faço quieto vira um evento...

Saco!




Jorge Schweitzer















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