quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Chaplin e as Brujas






Hoje...

Uma passageira pediu que a levasse até a Casa do Biscoito...

- É que amanhã é Dia de São Cosme e Damião...

- Caramba, nem lembrava...

Coço a cabeça...

- Hê, acabou de lembrar?

- Não, estou coçando a cabeça porque acabei de sair da chuva e me caiu um pingo chato...

Era verdade...

Não tenho religião, não tenho crença...

Nada!

Só lembrava que hoje  é Yom Kippur, dia do perdão judáico...

Também por acaso... 

Sempre fico sem compreender a razão de engarrafamentos perto de sinagogas já que a tradição prega que todos se dirijam até lá caminhando e em jejum...

Sequer água devem ser bebida...

Tempos modernos impuseram novos comportamentos e deslumbramentos rezam que melhor ir até templos para ostentar o carro importado ao invés da tradição da fé...

Também, nem mais fazem diferença determinadas liturgias...

Cosme e Damião caiu em desuso senão no subúrbio...

Doutrinas afros perderam espaço para pentecostais que oferendam milagres imediatos...

Daí, ora vejam...

Foi há pouco...

Passei pela esquina da rua e encontrei na encruzilhada um despacho...

Muitas velas acesas em volta de  sidras baratas, charutos e um prato de barro com galinha e farofa amarela...

Me aproximei para fotografar e mostrar aqui no blog...

Daí...

Descobri...

Havia uma moldura em volta do despacho que circundava a oferenda e a árvore...

De moedas de um real...

Mais de cinquenta...

Estavam enterradas na cera derretida das velas...

Uma a uma num desenho circular...

O que fiz?

Bom...

Agachei e passei a retirar as moedas...

Uma a uma...

Torci fervorosamente que nenhum amigo sacana me encontrasse naquela situação bizarra...

Não as coloquei no bolso por algum medo que não sei qual...

Yo no creo, mas vá que existam brujas?!

Nunca se sabe...

Eu estava com compras do Pão de Açúcar e desocupei uma sacola para as moedas...

Acham que fiquei com a merreca?

Nada!

Procurei um mendigo...

Encontrei...

Ele já estava dormindo ao lado do burro sem rabo da Rua Anita Garibaldi se protegendo da chuva...

O acordei...

- Amigo, trouxe uma grana prá você!

Ele ficou tão emocionado que me deu abraço tão  apertado que seu cachorro fiel  saltou de cima dos trapos rotos para me morder...

Tive que ficar pulando como numa dança doida chaplin  para o vira latas não me abocanhar...

Uma felicidade total linda de cinema...

Saí fora antes que ele descobrisse a quantidade de cera colada nas moedas de um real e me rogasse as piores pragas desumanas...

Na esquina da Barata Ribeiro ainda pude contemplar seu último adeus com ambos braços agitados e olhos marejados em direção ao seu samaritano de araque...

Transferi a macumba e ainda saí na história como herói...

Se a oferenda foi de alguma mal amada que me odeia...

Amanhã acordará com outro morador de rua que não eu como  sua paixão eterna...

Comigo é assim...

Sou mau feito pica pau...

Saravá!




Jorge Schweitzer



















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