quinta-feira, 5 de julho de 2012
Voo AF 447: Divulgada íntegra da conversa dos últimos momentos na cabine de comando da aeronave da Air France três anos após acidente
No final de julho de 2011, o Escritório de Investigações e Análises (BEA) divulgou a transcrição da caixa-preta, encontradas em maio daquele ano, mas sem a última frase, conhecida somente com a divulgação do relatório. A última frase do registro ilustra a conclusão da investigação, que indicou que os pilotos estavam desorientados e não compreendiam que estavam caindo: "Mas o que está acontecendo?", pergunta o segundo copiloto antes de cair no mar.
Confira o registro dos últimos momentos na cabine:
"Temos os motores. O que está acontecendo?", diz o segundo copiloto, às 2h11min3s, após o alarme de perda de sustentação (stall) disparar.
"Não tenho mais o controle do avião agora. Não tenho mais nenhum controle do avião", responde o primeiro copiloto, que comanda o avião no momento.
"Tenho a impressão de que a gente conseguiu velocidade".
Pouco depois, há um barulho na porta da cabine.
O comandante de bordo volta à cabine, depois de ter sido chamado pelo segundo copiloto enquanto descansava.
Fazia nove minutos que ele estava ausente da pilotagem.
"Hey, o que vocês estão fazendo?", diz o comandante.
"O que está acontecendo? Eu não sei", afirma o primeiro copiloto.
"Eu não sei o que está acontecendo."
O alarme de stall para de soar por sete segundos, e depois retorna de forma descontínua.
Os diálogos prosseguem da seguinte maneira:
(primeiro piloto): "Tenho um problema, eu não tenho mais o variômetro. Não tenho mais nenhuma indicação (de velocidade)."
(primeiro copiloto): "Eu tenho a impressão que estamos a uma velocidade maluca, não? O que vocês acham?"
(primeiro copiloto): "Agora está bom, agora deveríamos ter voltado a estabilizar as asas, mas ele não quer."
(comandante): "Asas estabilizadas. Horizonte seguro."
(segundo copiloto): "O que você acha? O que você? O que é preciso fazer?"
(comandante): "Eu não sei. Está descendo."
(primeiro copiloto): "A velocidade?"
O alarme stall volta a soar. O segundo copiloto prossegue:
"Você está subindo... Você está descendo, descendo, descendo, descendo."
(primeiro copiloto): "Eu estou descendo agora?"
(segundo copiloto): "Descendo."
(comandante): "Não, você está subindo agora!"
(primeiro copiloto): "Eu estou subindo? Ok, então vou descer."
(primeiro copiloto): "Na altitude, estamos em quanto agora?"
(comandante): "Não é possível..."
(primeiro copiloto): "Qual é a altitude?"
(segundo copiloto): "Como assim em altitude?"
(primeiro copiloto): "Sim, sim. Estou descendo agora, não?"
(segundo copiloto): "Sim, você está descendo."
(comandante): "É... Você... Você coloca as asas na horizontal."
(segundo copiloto): "Coloque as asas na horizontal."
(primeiro copiloto): "É o que eu estou tentando fazer."
(comandante): "Coloque as asas na horizontal."
O alarme estol para de apitar por dois segundos, retorna e depois para novamente 10 segundos depois.
Primeiro copiloto: "Estou tentando virar ao máximo à esquerda."
(primeiro copiloto): "O que está... Como pode que a gente continue descendo tanto?
(segundo copiloto): "Tenta ver o que você consegue fazer com os comandos do alto. Os básicos, etc."
(segundo copiloto): "Ao nível 100."
(segundo copiloto): "Nove mil pés."
(segundo copiloto): "Sobe, sobe, sobe, sobe."
(primeiro copiloto) "Mas eu estou empinando muito há algum tempo."
(comandante): "Não, não, não, não sobe."
(segundo copiloto): "Então desce."
(segundo copiloto): "Então me passa os comandos, me passa os comandos."
Alarme é acionado pela última vez, durante oito segundos.
(comandante): "Atenção, você está empinando."
Segundo copiloto assume o comando do avião: "Estou empinando?"
(primeiro copiloto): "Bom, é o que é preciso fazer, nós estamos a quatro mil pés."
(comandante):"Vá, puxe!"
(primeiro copiloto): "Vá, puxe, puxe, puxe, puxe."
(segundo copiloto): "(palavrão) Nós vamos bater! Isso não pode ser verdade"
(segundo copiloto): Mas o que está acontecendo?
PS: Pois é... Semanas atrás transportei no Táxi um comissário da Air France que já trabalhava na companhia na época do acidente... Ele é brasileiro e mora em Paris e tem muito orgulho de sua profissão... Seus pais moram no RJ na Rua Henrique Valladares... Acabara de apanhá-lo se despedindo deles em direção à Zona Sul após lhe repetirem conselhos e pelo retrovisor presenciá-los se despedindo abraçados balançando as mãos num até breve... Conhecia todos que trabalhavam a bordo daquele vôo... Foi um baque... Disse que acordou na França com telefonema que o avião havia sumido... Me contou o quanto é difícil falar do assunto que acaba sendo inevitável quando alguém o conhece... O deixei a vontade para falar ou não sobre... Disse que já se acostumou em abordar o assunto, infelizmente... Não há como evitar encarar a tragédia... Igualmente lhe confidenciei algo que não reproduzi por aqui mas insinuei na época e pode ser rastreado em postagens antigas próximas a data do acidente... Levei ao aeroporto do Galeão um passageiro que embarcaria no vôo da Air France daquele final de tarde e retirou fones de ouvido que escutava músicas para conversarmos em espanhol... Procurei abstrair das minhas lembranças o bate papo bacana que tive com meu passageiro que embarcou no 447... Qualquer dia procuro e reproduzo... Mas... O atual comissário contou que embarcou um dia após o acidente com todos passageiros sobressaltados a qualquer movimentação... Narrou que a viagem mais difícil de sua vida foi quando fez a mesma rota levando familiares das vítimas rumo à Paris... Todos se consolando numa comoção coletiva e emocionada... No final da corrida o liberei de rememorar o sacrifício da recordação e fomos falando sobre a Rio+20 que rolava por aqui e a fila imensa para a exposição Humanidade 2012 no Forte de Copabacana... Vamos administrando dores e lembranças para nos permitirmos continuar... JS
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