Finalmente, liguei... Ela sequer sabia quem eu era...Putz!

Escravização à qualquer ferramenta moderna virtual é odiosa...

Não creio em sentimentos reais nesta nova etapa humana criada pela Internet...

Não vou exagerar que sentimentos atuais sejam completamente falsificados mas pelo menos recomendável ficar prudente...

Criei um escudo para não me empolgar demais...

Jamais tomo iniciativa de interagir, jamais...

Certa noite recebi telefonema de madrugada de uma moça do interior de São Paulo que ficou tão emocionada em finalmente conseguir me escutar pelo telefone que gritava como se eu fosse seu pop star feito um Fávio Júnior...

- Cara, eu te amo muito! Você não sabe a quanto estou emocionada... Você é meu ídolo! Uuuuuuu! Minhas amigas não irão acreditar que falei com você! Adoro você! Uuuuuuuuuu! ...

Fiquei até constrangido acreditando que alguma pegadinha...

Certamente em razão que fico semanas com celular desligado...

Já cheguei a ficar dois meses sem usar o celular...

Quem me conhece sabe que é verdade...

Pôs bueno...

Semanas atrás uma moça enviou mensagem que estaria aborrecida por haver me ligado no dia do meu aniversário e eu não ter atendido...

É verdade...

Como o som das caixas era muito alto no local em que eu estava naquela noite, deixei de atender todas ligações...

Paciência...

Por email, ela me confidenciou chorosa que aguardava somente uma razão forte para tomar coragem de me ligar finalmente...

Disse que a cada táxi que passa em sua rua olha para ver se me identificava como condutor...

Pô, sou taxista, velho e duro...

Duro e cara de pau!

And, vice e versa da frase acima...

Fiquei todo Black&Decker...

Jurava que me envolveria em abraço, amor devassador, avassalador, coisa de cinema, escutar minha voz...

Que gostaria de ser abraçada da forma que eu preferisse...

Aquelas coisas de mulher tentando nos impressionar...

Fiquei deveras e idiotamente compadecido...

Putz, por que não?

Sou da época ida em que ainda acreditávamos em que mulheres nos aguardariam para sempre escrevendo poesias com nosso nome na vertical em cada letra uma frase...

Que nada...

Mulheres de Atenas já não se fabricam mais...

Extinção total de sentimentos pretéritos não sacramentados de imediato...

A fila anda...

E como anda...

Pô, graças a Deus, né?!

Inda bem!

Reproduzo abaixo nosso diálogo de ontem:

- Alô!

- Aqui é Jorge Schweitzer, finalmente!

- Quem?

- Sou eu, Jorge Schweitzer!

- Deve ser engano...

Tum, tum, tum!

Fiquei meio mal e descornado...

Por meia hora...

Já apareceu outra Adele...

Fazer o quê?

E...

Viva a Internet!




Jorge Schweitzer


PS: Se ela deixar uma, pelo menos, mensagem cifrada chifrada por aqui eu reproduzo.... Juro!... Acho que acabou... Snif, snif...