terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Juro, meu bem, eu te darei o céu!







- O senhor mora em apartamento ou casa?

- Moro aqui, dentro do Táxi!

Ri muito se sacudindo toda e me conta que comprou cão filhote que cresceu muito e pretende se livrar...

- O senhor é muito engraçado, tem que idade?

- 87 bem vividos!

- Não parece mesmo, eu tenho 75 mas também não pareço...

- E o cachorro?

- Hein? Ah, cinco para seis meses... É inteligente e carinhoso... O senhor parece um homem bom, gostaria que alguém assim fosse seu dono...

- Não sou bonzinho, não! Uma semana depois do seu cachorro me conhecer pedirá prá voltar...

Quando embarcou reclamava muito que dois ônibus 711 não pararam e só pegou táxi por estar com problemas na perna e nem poderia estar gastando tanto...

Brinquei que todo idoso deveria andar armado com trabuco de grosso calibre a abater motoristas folgados que não acudam velhinhos como nós...

Mostra a caixa da injeção de cortisona de 74 reais e de hialuronato de sódio caríssima que tomou ainda há pouco depois de sair da sua dentista...

A partir dali me conta como antigamente o mundo era melhor...

Conheceu Lamartine Babo em pessoa na Rua Mariz e Barros que apertou as bochechas de seu primeiro filho de meses no colo que atualmente tem 56...

Teve privilégio de contemporânea onde tudo era um sonho dourado...

Viajou ao 'estrangeiro'...


Já andou pelo mundo, conheceu a Europa inteira...

Fala quatro idiomas fluentes...

Está pensionista viuva e solitária...


Quer dizer, só com o cão...

Seu marido era industrial...

Fabricava colchões...

Imagino de crina e lã...

Não provoco...

Juro que só aceito adotar seu cachorro se ela jurar que o tal cão sabe passar roupa...

Ri novamente...

A corrida finaliza em 14 reais, me paga 20 e não quer troco...

- O senhor não tem onde morar mesmo?

- Tenho, lógico, dentro do Táxi!

- O senhor tem cartão para eu ligar quando precisar de táxi?

- Desculpa, também não tenho celular!

- Como faço para encontrá-lo?

- Só por acaso...

- Não pára em ponto algum?

- Nenhum, sou do mundo!

- Que pena...





Jorge Schweitzer





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