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Semanas atrás peguei uma passageira que chorava...
Sua senhoria pediu que se mudasse...
Estava sem rumo...
Adorava sua casa...
Cada curva de suas portas conhecia no escuro...
Cada interruptor...
Cada janela e basculante...
Ali passou grandes momentos...
Sua bicicleta na garagem...
Sua planta na janela...
A cortina esvoaçante...
Os sons da sua casa que se modificavam quando o sol batia forte...
O cheiro de maresia que corroia placas de seus aparelhos eletrônicos...
Seu endereço...
Suas contas na caixa da portaria...
Suas esquinas...
O moço que trançava assentos de cadeiras debaixo da marquise...
Seu jornaleiro...
Seus amigos da lanchonete...
O café pingado com joelho a escorrer o queijo na manhã...
Seu jornal aberto na primeira desgraça do dia anterior...
O vento que batia forte nas ruas transversais da praia...
O caminhão barulhento da Comlurb atravancando a rua...
O mendigo a dormir sobre o papelão ao lado da lavanderia...
Os pedintes chatos ao lado do caixa eletrônico do Bradesco...
Os catadores de latinhas que reviravam o lixo da entrada de seu prédio...
O cego que dava esmolas eventuais para purgar suas culpas...
O menino pés descalço que ela achava que iria surrupiar seu celular que bate fotos...
Suas referências...
Até já havia se acostumado com os porteiros pozudos sentados na portaria como executivos...
Lhe determinavam regras de janeiro a novembro...
Dezembro, carregavam suas sacolas...
Descreveu a tapioca do ambulante com chocolate...
O churrasquinho da madrugada com cerveja em lata skol...
O congestionamento infernal e saudoso na sua porta...
Os cachorros pit-bull sem focinheiras...
Queria continuar por ali...
Confessou ser igual gato...
Chorou...
Não queria mudar...
Fiquei sem palavras...
Sou igual cachorro vadio...
Adoro mudanças...
Só me basta um quarto de dormir...
Jorge Schweitzer
terça-feira, 27 de setembro de 2011
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