quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Na Paz!

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Nunca sei se meus dias são mais ou menos...

Tal aquele texto maldito do relógio...

Ontem mergulhei em turbilhão...

Para narrar aqui escovei a sensatez...

Para não transparecer Super-Pateta...

Que engole amendoim para voar em HQ...

Circulei...

Passei logo abaixo do Turano...

Com bruxos do Bope calados...


Caveirão...


No acesso da Barão de Itapagipe...

Pipocos e um cadáver lá arriba...

Subi a Guararapes...

Esbarrei no Core na boca do Cerro Corá...


Pacificador...

Aquela coisa de abrir a mala para averiguar...

Se não transporto:

Cadáver, quilos de pó ou traçantes...


Um policial de cabeça raspada me reconhece e aperta minha mão me chamando pelo sobrenome...


Não sei quem é...



Não ligo...

Persigo que pressão arterial lenda...

Cravou-se em doze por oito...

Acelero..

Na saída do HTO um casal...

Perna com parafusos expostos...

A embrulhar meu próximo almoço...

Me conta...

Trabalha com reflorestamento...

Comlurb...

Conhece todas favelas...

Apanha umas mudinhas...

Planta...

No entorno careca de favelas...

Sabe cada facção domina qual comunidade...

Na ponta da língua...

Recita como versículos...

Quais CV ou TC...

Todas...

Fico curioso ao citar 'teleguiados'...

E...

Exercitar que ADA e TC é a mesma coisa embora diferente...

Mora nos Macacos...

Chegamos na bocada...

Lixo, caçambas, fuzis e uma escada íngreme...

Paga 17 reais e avisa que a corrida acabou...

Ué?

Reconhece que indevido eu tentar ajudá-lo a chegar próximo de seu barraco no topo...

Impossível ele vencer escadarias...

Com um cano ao lado como suporte...

Brinco que resolvi tomar um café...

Lá em riba feito por sua patroa ao lado...

Adentro uma estrada de chão batido...

Desvio inimaginável...

Buracos, saculejos, medo...

Pronto!

Chegamos...

"Tá venu"?!

Normal...

12 por 8...

- Minha esposa vai descer com o senhor até a Senador Nabuco, para abrir caminho que o movimento lhe conhece...

- Negativo, quem não assombrou na subida não enfiará cagaço na descida....

- E o café?

- Prá próxima! Fica na paz...

- Na paz!

Laranjeiras...

Uma moça e um cachorro linguiça no colo...

Seu pai é gaúcho...

Caxias do Sul...

Informa depois de identificar meu sotaque que não abandono mesmo em treinamento constante...

Seu cão está velhinho...

15 anos...

Problemas de coluna...

Telefona para a empregada...

Pede que compre escova de neném...

Para fazer fisioterapia nas costas de seu amigo canino...

Indico que ela pegue "Sempre ao Seu Lado" na locadora...

Para chorar despedida...

Assim que o "Pavarotti" for embora não quer outro cão, jamais...

Brinco ...

Promessa equivalente a perder namorado e não admitir outro amor...

Inevitável próxima armadilha do destino...

Botafogo...

Uma moça Musicoterapeuta...

Amanhã estará em passeata na Cinelândia...

Sua profissão não é completamente regulamentada...

Tem pós e doutorado na área...

Me traduz como a música arrepia todos sentidos...

Está à caminho da Arquediocese para reunião...

Musicoterapeutas fazem trabalho no Inca...

Experiências fantásticas com fetos acompanhados ao som...

Crianças com Síndrome de Down que a partir de um sopro esboçado são incentivadas...

A experiência iniciada como tratamento de soldados americanos que retornaram desnorteados da II Guerra a encontrarem a terapia...

A mídia não estampa...

Prometo divulgar...

Me deixa seu cartão...

Guardo todos cartões...

Muitos perco...

Deixo ao lado de outro de advogado que me prometeu contar o segredo dos subterrâneos, na semana passada:

- Corre! Estou indo liberar um cliente preso com três quilos de pasta base!

- O trânsito está uma merda, amigo!

- Tenho que chegar antes do cliente começar a depor...

Fico imaginando como possível diminuir o grau do flagrante:

- Fácil!

Rio:

- Como é possível desqualificar um bagulho destes?

- Alegar que é dependente!

- Tá brincando? Três quilos de pasta deve gerar cinco vezes mais com pó royal e pasta de mármore. Ninguém cheira sozinho uma porcaria inteira destas...

Descubro que sou ingênuo suficiente sobre a máquina de fazer inocentes...

Alegação padrão para mulas é dívida com o tráfico...

Meu advogado conta que o laudo custa 8 mil reais...

Deixa seu cartão caso eu tenha amigo em apuros...

Não tenho...

Jamais terei...

Espero...

Já intermediou negociações periciais de 200 mil reais...

Conhece todos meandros...

Está rico...

Conto que tenho uma página na Internet...

Não se assusta...

Promete me contar muito mais...

Assim que lhe enviar email...

Ninguém me acredita...

Estácio, uma senhora...

Tenta alcançar a maçaneta do meu banco ao lado...

Abro a porta traseira...

Estou entupido de conversar...

Quero silêncio...

Ela fala, fala e fala...

O tempo todo...

Aumento o rádio na JB FM...

Pergunta, ri, conta, sorri, gargalha...

Não quero escutar mais nada...

Insiste...

Reclama de tudo...

Reclama do trânsito em rush...

Olho pelo retrovisor...

Ufa!

Sou um genuflexório ambulante...

Não se toca...

Entope meu cérebro abrindo a alma...

Assisto...

Uma empregada doméstica que irá negociar com sua futura patroa...

Sua baixo estima já não lhe proporciona glamour...

Raros dentes amarelados...

Vestes quase rotas...

Me penitencio:

E se fosse uma moça linda?

E se ostentasse cambraia da Maria Bonita e uma Louis Vuitton?

Por que trajes, formas e modos naturais nos harmonizam repugnância?

Abaixo o som...

Passo a escutá-la...

Quero ouvir sua história...

Descubro uma trajetória em preto e branco...

Seu único companheiro, inúmeros filhos e causos...

Uma ingenuidade surreal em estado bruto...

Quase perco um presente natural destes...

Antes de saltar?

Mostra sua carteira de identidade IFP...

Para comprovar que nasceu em MInas Gerais...

Mesmo mineira desaprendeu sair de casa mais cedo...

Deu vontade de lhe abraçar...


Chega!

Tchau!






Jorge Schweitzer





Um comentário:

  1. Crônica suburbana em estado puro, latente, delícia. Parabéns sempre.

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