sábado, 21 de agosto de 2010

Rua do Riachuelo, 48

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. Existe um prédio do INSS invadido na Rua do Riachuelo...

Em frente a Caixa Econômica Federal...

Em frente a Rua Silvio Romero...

É um prédio de algo como mais de dez andares...

Desabrigados de rua se concentraram por lá...

Já foram retirados e retornaram...

Ontem, entrei no tal prédio...

Estacionei na calçada em frente...

A portaria estava aberta...

Adentrei tentando conversar com alguém...

Não havia ninguém na porta...

Continuei...

Minha intenção era encontrar a mãe da menina Raissa, assassinada no carnaval passado ao lado do MAM...

Já presenciei quase todos submundos...

Nada me impressiona...

Fiquei mal...

No primeiro andar um cheiro imenso de urina e fezes com água escorrendo pelas paredes...

Continuei subindo...

Segundo e terceiro andar...

Móveis velhos, roupas penduradas e escuridão...

Continuei...

Quarto...

Goteiras...

Crianças e algumas mulheres sem entender minha presença...

Me senti como num filme Mad Max...

Explico a razão de estar por ali...

Sorriem...

Felizes...

Quase sem acreditar...

Ninguém haveria de se preocupar com eles...

Chego ao sexto andar bufando com respiração ofegante...

Aspirando vapores do inferno...

Muitas cortinas separando compartimentos...

Uma senhora me conta que a mãe de Raissa sumiu dali logo no dia seguinte do crime...

Teve medo do assédio da imprensa...

Medo que o criminoso pudesse localizá-la...

Todos têm medo...

Tenho medo de estar ali...

Nem me atrevo a sacar a filmadora...

Subo até o oitavo andar...

Engraçado...

Só existem mulheres e crianças pequenas por lá...

Homens sairam para trabalhar...

Me contam...

Catando latas e papelões...

Não encontrei bêbados ou viciados dormindo...

Criaram uma sociedade paralela inacreditável...

Uma emocionante resistência...

Vontade de recuperar auto estima...

No meio da sujeira degradante...

Quando comecei descer as escadarias meu olfato já estava acostumado...

Combinei de registrar uma noite de sábado por lá...

Quero assistir como se divertem...

Como a vida se adapta ao meio...


Saí dali com a alma aos pedaços..



Jorge Schweitzer

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