quinta-feira, 1 de maio de 2014

Sargento PM Denilson Francisco de Paulo, de herói do massacre de Realengo a vilão preso como integrante da 'Gangue da Calcinha'








Herói do massacre de Realengo, PM foi preso por suspeita de ataques em estrada
Terceiro-sargento evitou mais mortes em escola municipal interrompendo ação de atirador. Ele é acusado de integrar a 'Gangue da Calcinha'

ADRIANA CRUZ

Rio - De herói a vilão em três anos. Essa é a trajetória do terceiro-sargento Denilson Francisco de Paula. No dia 7 de abril de 2011, ele foi um dos três policiais a entrar na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, e interromper a ação do atirador Wellington Menezes de Oliveira que já tinha baleado e matado 12 crianças, num massacre que chocou o mundo.

Agora, Denilson, na Polícia Militar há pouco mais de 11 anos, está preso, acusado de integrar o bando batizado de ‘Gangue da Calcinha’, que atacava veículos de confecções de lingerie da Região Serrana, na Avenida Brasil e na Washington Luís, em viaturas do Batalhão de Vias Expressas (BPVE), como O DIA revelou com exclusividade terça-feira. Eles exigiam dinheiro e roubavam peças íntimas transportadas pelas vítimas. 


Em 12 de abril de 2011, cinco dias depois da chacina de Realengo, Denilson foi condecorado por bravura e promovido de cabo a sargento. A cerimônia contou até com a presença do presidente em exercício na ocasião, Michel Temer. À época, Denilson recebeu o aperto de mão do secretário de Segurança, José Beltrame. Nesta quarta-feira, via assessoria de imprensa, o secretário disse que não se pronunciaria sobre o caso. 

Em um ano, Denilson foi acusado de concussão (exigir vantagem indevida em função do cargo) duas vezes. Ficou preso de 3 de setembro a 16 de abril, por um caso, foi solto e voltou para a cadeia dia 24 por decisão judicial, em função de outra acusação. “O caso do Denilson é um choque para a população e para as pessoas que sempre vão lembrar dele como um herói. Mas se não há dúvidas sobre a conduta dele, lamento, a lei tem que ser cumprida”, afirmou o ex-comandante da PM, Mário Sérgio Duarte, que participou da condecoração de Denilson e outros dois militares, em 2011. 

Para o promotor Paulo Roberto Mello Cunha Júnior, do Ministério Público, que atua junto à Auditoria de Justiça Militar, responsável pela denúncia de Denilson e outros cinco militares ao Judiciário, a corrupção não é uma exclusividade das forças policiais, mas um problema nacional. “Isso dá bem a dimensão de que o problema da corrupção não está ligado a uma opção do indivíduo. Há um sistema que empurra o policial para determinadas escolhas e, muitas vezes, o herói e o corrupto acabam sendo a mesma pessoa”, analisou. 

Na próxima quinta-feira, às 12h30, Denilson estará sentado no banco dos réus com outros cinco PMs em audiência na Auditoria da Justiça Militar. Na denúncia do Ministério Público, o grupo responde por roubo, extorsão, extorsão mediante sequestro e concussão. As penas variam de dois a 15 anos de prisão. No documento, eles são descritos como violentos e chamados de ‘piratas do asfalto’. Treze vítimas, de 12 empresas, prestaram depoimento na investigação que foi feita pela 7ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM).

Promotor critica liberdade concedida ao policial 

Os terceiros-sargentos Denilson Francisco de Paula e Elson do Regô Brito foram presos em flagrante, em 3 de setembro. Na ocasião, eles foram acusados de abordar uma vítima na Rodovia Washington Luís, próximo à Linha Vermelha. Teriam exigido R$ 300 e mais um kit-lingerie para liberá-la. Dentro do armário de Denilson no BPVE, foram encontradas peças íntimas. Em fevereiro, a juíza da Auditoria de Justiça Militar Ana Paula Figueiredo rejeitou o pedido de liberdade da dupla. 

Mas, no dia 3 de abril, os desembargadores da 5ª Câmara Criminal, do Tribunal de Justiça, decidiram colocar Elson em liberdade. Alegaram que a vítima não confirmou o episódio. Relator do habeas corpus, o desembargador Cairo Ítalo França David estendeu o pedido de liberdade de Elson a Denilson também.


Impos apenas que eles não se aproximem da vítima nem mantenham contato com algum parente dela; compareçam mensalmente à Auditoria da Justiça Militar e às audiências do processo e não mudem de endereço sem avisar à juíza. Porém, eles voltaram para a cadeia porque foram reconhecidos por outra vítima. 

“Não conheço o teor da decisão que veio a soltá-los, mas, à luz do processo, talvez seja equivocada. E isso torna ainda mais grave quando se trata de policiais que usam a farda para prática de delitos”, avaliou o promotor Paulo Roberto Mello Cunha Júnior.

O dia crucial para a prisão 

O dia 3 de setembro foi crucial para a prisão de Denilson Francisco de Paulo. Primeiro, ele foi preso em flagrante sob a acusação de exigir R$ 300 e um kit-lingerie a uma vítima. Porém, no mesmo dia, tanto ele quanto Elson do Regô Brito foram reconhecidos por outra vítima. Desta vez, a acusação foi relativa à exigência de R$ 100 mais um kit-lingerie — duas sacolas de peças íntimas que teriam sido jogadas dentro da viatura do Batalhão de Vias Expressas (BPVE). 

Na ocasião, a vítima trafegava pela Avenida Brasil, transportando mercadorias para vendê-las em Nova Iguaçu. Após a abordagem, eles teriam determinado a entrega dos documentos do veículo, notas fiscais das peças íntimas e talão de vendas. Sob a alegação de que o talão estaria “errado”, ele teria exigido dinheiro e o kit-lingerie, caso contrário levaria a vítima à delegacia. 

Pela primeira acusação, os dois policiais respondem a Processo Administrativo Disciplinar que pode resultar na expulsão da PM. Nesta quarta, a assessoria de imprensa da corporação afirmou que o procedimento está em fase de conclusão. Mas as duas acusações são processos na Auditoria de Justiça Militar. Ontem, O DIA tentou falar com os advogados Marcelo de Souza Seixas e Iguaraci de Araújo, que defendem os policiais, mas eles não foram localizados.




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