quinta-feira, 8 de maio de 2014
O Atalho à Felicidade
Quando alguém começa a contar somente desventuras ou vou saindo de perto de mansinho...
Não existe coisa mais chata do que convivermos com derrotistas compulsivas...
A coisa ruim parece que vai te impregnando...
Em cinco minutos de conversa parece que toda energia boa em volta foi sugada e permanece sensação de cansaço incompreensível...
Igualmente é muito mala quem só conta vantagem...
Mas...
Lembro que quando mudei pra Copacabana eu ainda tinha motocicleta que foi mais ou menos fácil de conseguir estacionamento...
Quando comecei a trabalhar no táxi passei a deixá-lo, inicialmente, na rua até encontrar garagem disponível...
Deixava na Rua Anita Garibaldi onde quase não passavam carros...
E, sempre me aborreceu ter que dar dinheiro para guardador por ali em razão que tive dois rádios roubados do carro...
Porém, existia um sujeito muito bacana que até lavava meu carro na madrugada, sem eu pedir, e quando eu chegava pela manhã ele nem comentava nada...
Depois que ele apareceu, nem sei de onde, ou podia até deixar o carro por lá de portas abertas...
Ele dormia na carroceria de uma kombi, com autorização do proprietário, que fazia mudanças em Copacabana...
Este camarada jamais reclamava de nada, não vivia maltrapilho e só bebia uma ou outra cerveja eventualmente, dizendo que só o fazia no final de semana depois do 'trabalho' e ria disto...
Ele foi fazendo amizade com todos em volta, dos bares a porteiros de prédios...
Foi se virando sem nunca me dizer de onde vinha, ou lamentando o que aconteceu para ele chegar naquela condição...
Vivia sempre de bem com vida e, acredito, muitos sabiam da história dele já que passaram a confiar chaves do carro até para ele resolver alguns de seus problemas particulares...
Ele lavava carros, guardava, trocava pneu, arrumava bateria emprestada num borracheiro, ajudava a engatilhar enguiçados...
Virou um parceirão que nenhum de nós se sentia achacado por ele, era um prazer retribuir com uma gorjeta bacana...
Certa vez, um taxista que também deixava o carro na Anita lhe disponibilizou seu carro para que ele trabalhasse na madrugada...
Lógico, ele certamente tinha todos documentos para se habilitar à autorização para ser taxista além de não ter passagem pela Polícia...
Durante o dia ele retornava à rotina de guardador e quebra galho de todos nós das redondezas...
Sempre com um sorrisão e uma palavra bacana, jamais o vi se fazendo de coitado em lamúrias sobre sua condição...
Aquela postura dele perante sua vida dura fazia mais bem à todos nós do que a ele somente...
De dez ou vinte reais que todos dávamos todo dia, e mais o trabalho no táxi à noite, ele foi se levantando...
Após eu começar a guardar o carro em garagem passei a ter pouco contato com a rotina na Anita Garibaldi...
Passaram-se tempos...
Dia desses o encontrei numa casa de acessórios para automóveis perto do Sambódromo, todo alinhado, veio conversar comigo:
- Ô, gaúcho, que legal te reencontrar!
- Como é que tu tá, cara?
- Tô bacana, me deram uma oportunidade como loteria...
Não perguntei do que se tratava...
Ele sai da loja e entra numa camionete 4x4 toda estilosa...
A vida possui estes altos e baixos que somente alguns de nós temos paciência para transpor com altivez sem perder o foco ou a esperança...
Lembro de um amigo meu, que faleceu há alguns anos vitimado pela inclemente idade avançada, que era proprietário de um imenso sítio fora do RJ que eu o levada a cada quinze dia para pagar empregados; contas do mercado; loja de material de construção e ração para os animais...
Um parente seu, muito próximo, era cadeirante...
Militar, chegou num restaurante no Leme que estava sendo assaltado, com o uniforme num cabide...
O assaltante se assustou e deu-lhe vários tiros que seccionaram sua coluna...
- Schweitzer, ele jamais reclamou da tragédia, jamais o vi questionando como sua vida poderia ser diferente se não tivesse sido atingido...
A vida é assim, existem pessoas que focam sua predestinação à serem felizes apesar das turbulências...
Isto independe de condição financeira, posição social ou oportunidades alavancadas pelo bom destino...
Sempre que eu e meu amigo idoso retornávamos pela Ponte Rio Niteroi no final da tarde onde o sol explodia no mar criando uma onda reluzente em direção ao horizonte eu comentava que aquela imagem me dava uma sensação de felicidade completa...
- Pô, Schweitzer, eu aqui cheio de problemas preocupado em vender este sítio que ninguém dá quanto vale e você me falando do sol...
Tempo passou...
Nunca mais comentei nada sobre o sol em nossa volta pela Ponte...
Certo dia, do nada:
- Você tem razão!
- O quê, coronel?
- Esta imagem dá uma sensação de paz que não tem preço!
- Coronel, não preciso de sítio imenso com duas piscinas, cachoeira e quatro casas luxuosas no terreno; minha liberdade me permite ser dono do mundo inteiro sem ser proprietário de nada documentado em cartório...
Claro, isto nem é tão verdade assim...
Não importa...
Por vezes a boa sorte até mesmo atrapalha nossa sadia trajetória...
Mike Tyson declarou que somente começou a perder para ele mesmo quando o dinheiro lhe proporcionou conforto acomodado...
Dia desses, assisti o Roberto Cabrini contando sobre um encontro com Ayrton Senna na beira de um imenso aquário de carpas...
Senna mostrava que as carpas pequenas eram mais ágeis que as já gordas grandonas no momento de capturar o alimento...
Ayrton Senna explicava ao Cabrini que jamais queria perder a disposição e agilidade acomodado no fastio de abocanhar mais do que exatamente o necessário...
Pôs bueno...
Anteontem fui bafejado com uma ótima oportunidade que não devo ainda contar por aqui...
Somente vou compartilhar com poucos amigos...
E, nada irá mudar...
Vou permanecer como antes...
Perseguindo ideais que dôo absolutamente de graça...
Se o destino improvável resolve retribuir, melhor ainda...
Na realidade, tudo deve ter algum motivo oculto que jamais saberemos a razão...
Na hora certa tudo se encaixa...
Tenham certeza!
Jorge Schweitzer
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