Na solidão de um Táxi em Movimento

É muito difícil manter um blog atualizado sem recair na tentação de não mais escrever...

Mais difícil ainda é sustentar um público fiel de leitores que irão te acompanhando por identificação ou ódio...

E, até quem odeia o blog e mesmo assim passa por aqui diariamente, sabe que perseguimos a verdade e a credibilidade foi ladrilhada em linha reta...

Quem acreditou que haveria de prover um blog com experiências pessoais fascinantes logo descobre que sua rotina é tão entendiante quanto a de qualquer outro mortal...

Quando uma quantidade enorme de pessoas criaram seu próprio blog acreditei que seria difícil concorrer com tanta gente que escreve com melhor competência...

Logo após celebridades aderiram a moda piorando minha capacidade de concorrência...

Porém, a maioria desistiu ou migrou para redes sociais com o advento do Facebook e do Twitter...

No Instagram se refugiaram os que não tinham mesmo nada a dizer...

Agora...

Sempre acreditei que o blog é minha ferramenta preferencial...

Acredito que meu exercício de cidadania requer uma palavra ampla muito além de 40 caracteres...

Então...

Há dois meses, um professor de inglês  pegou meu táxi - entre o Flamengo e Copacabana onde mora - e fomos conversando até que ele citou que pescou uma informação no Facebook...

Brinquei:

- O senhor acredita em Facebook?

Me devolveu de pronto:

- Você odeia a internet?

Lógico, era uma zoação já que o Facebook é logicamente relevante...

Contei que tive conta no Facebook até ser expulso pelo provedor ao me informarem que eu me identificava com nome falso...

Poxa, qualquer que teclar meu nome no Google descobrirá de pronto que eu sou eu mesmo...

E, contei que tenho um blog...

- Como se chama?

- Táxi em Movimento...

- Não acredito, é você mesmo eu estava reconhecendo sua voz nos vídeos...

Disse que estava emocionado em me conhecer e mostrou seu braço arrepiado...

Disse que todos que ele  conhece me lêem...

Por um momento achei até que estava exagerando até ele me narrar o que eu havia escrito no dia anterior...

Apertou minha mão várias vezes, bateu em meu ombro...

Ao saltar do carro, ainda consegui vê-lo parado na calçada olhando eu ir embora...

Estes episódios inesperados são marcantes...

Antes dele saltar confessei que iria citá-lo no dia seguinte mas somente agora estou fazendo, cometendo pecado mortal de não lembrar seu nome...

Sei que muitos me acompanham silenciosamente sem saber quem...

Quando encontro alguém aleatoriamente tomo um susto bom...

Na semana passada meus leitores ultrapassaram 4 mil pessoas por dia...

Já tive mais de 10 mil, 20 mil diários...

Uns vão, mas sempre voltam para conferir o que ando aprontando...

Ou, simplesmente retornam à procura de algum texto de boas novas...

Tenho completa consciência que quando abordo temas barra pesada espanto leitores...

Mas...

Não tenho como deixar de aproveitar a visibilidade do meu blog para dar exposição à alguma causa necessária...

Por vezes até tenho a sensação equivocada de solidão...

Até ser sacudido ao vivo por um afago da realidade...

Como um presente a confirmar que do outro lado da tela temos amigos imaginários de verdade capturados pelo teclado do lado de cá...

Resolvi escrever sobre isto ao receber uma ligação ontem a noite...

Não atendi...

Em seguida, recebi três SMS do mesmo número...

'Tudo bem?', 'Sou eu' e 'Você pode falar agora?'...

Fui pesquisar o número no arquivo morto da memória...

O celular continuou a tocar...

Desliguei o celular e fui dormir...

Para algumas pessoas você abre as amplas porteiras da alma para abrigá-la a vida inteira e ela insiste em testá-lo na contramão do sentimento...

Daí, sobra somente o silêncio...

E me acompanhar no blog...

Até o final...

Fazer o quê?!





Jorge Schweitzer