domingo, 15 de janeiro de 2012
Enterrem meu coração na curva do Rio
Hoje recebi recado que um amigo sofreu infarto e teve parada cardíaca...
Jovem, magro, não bebe, não fuma...
Está se recuperando!
Acho providencial lhe fazer visita e presenteá-lo com um vinho português e dois cálices de Tontola...
Agora...
Na realidade nem é tão amigo assim, já que não tratou de me ligar no exato momento que passou mal...
Quando meu grande amigo e herói que comandou valente pelotão de reconhecimento na II Guerra na Itália, Coronel Moura - 86 anos então - teve uma parada cardíaca ao seu marca passo falhar numa madrugada e tomar um tombo e bater com o rosto no chão...
Ficou todo ensaguentado segurando um saco de gelo aguardando a ambulância do Exército em direção ao HCE onde teve três paradas cardíacas...
Com a família inteira em sua volta preocupada lhe cobrindo de carinho:
- Por favor, liguem para o Gaúcho!
Na verdade era para me avisar que não iríamos no dia seguinte à Cachoeira de Macacu para almoçarmos no Restaurante da Carminha, eu me esbaldar na cachoeira enquanto ele pagava caseiros, dormia após fazer palavras cruzadas e voltarmos ao entardecer...
Mas, sempre achei que ele queria mesmo era me avisar que algo estava fora do lugar...
Um ano após...
Poucos dias antes do Cel Moura falecer alguém fez a ligação e lhe entregou o telefone para o amigo falar comigo já com a voz em sussuro comentando sobre um texto meu reproduzido no Jornal do Brasil naquele dia que alguém leu prá ele...
Amigo mesmo é assim...
Amigo que não avisa que está morrendo não é amigo...
Mas, vá lá...
Certo é que este meu candidato a amigo atual certamente não iria morrer...
Nenhum de nós irá morrer antes de limparmos manchas de sangue da nossa estrada de tijolos amarelos...
Só partiremos após nossos inimigos sepultados...
Todos!
Um a um...
Tenha certeza!
Não me assusta a coisa de ficarmos próximos da morte...
Me assombra a idéia de não executar tudo que tenho que fazer antes de ir embora...
Quero meu coração enterrado na curva do Rio que todos possam contemplar que fiz a coisa certa...
Se amanhã algum médico me avisar que tenho somente uma semana de vida preparem as manchetes policiais por aí...
Em razão de, evito médicos com gadanhos pendurados como estetoscópio...
Quero ter certeza que tudo posso, mesmo que seja ilusão...
Médico e mecânico sempre auscultam algum barulho estranhão na máquina descrevendo peças gastas com nomes estrambólicos que desconhecemos a sintaxe até então...
Jamais vou a médico...
Nunca!
Não confio...
Quer dizer...
Confio somente em uma!
Na realidade, duas...
Só desconfio um pouco...
Ambas gostam do Fávio Junior...
Credo!
Jorge Schweitzer
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