quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sociedade dos Poetas Mortos



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Sou covarde...

Sou pequeno...

Por quê não faço algo mais contundente ao invés de ficar só dedilhando no computador ecoando no deserto?

Porque sou revolucionário de nada...

Um Guevara de escrivaninha...

Tive pouquíssimas oportunidades de fazer algo prático na vida real...

Na realidade nem foi culpa minha...

Fui abortado pelo destino cruel...

Na última campanha eleitoral tentei bater boca civilizada com Guilherme Palmeira – candidato a governador do RJ pelo PT - na Av. Nilo Peçanha, próximo ao Buraco do Lume...

Palmeira trepado em caminhão de som, pago por nós, esbravejava que ‘nunca a PF do Lula prendeu tanto neste país’; saltei do carro para gritar ‘MENTIRA, MENTIRA’...

Tentou demonstrar que não me via e continuei insistindo enquanto Palmeira fingia que eu não existia para eu repetir ‘Estou aqui! Estou aqui! É MENTIRA! É MENTIRA!’...

Foi divertido para os transeuntes presenciarem a cena de um taxista doido circulando feito um estranho saltitante por entre os carros proferindo gritos que acreditava democráticos...

Noutra ocasião, vi e ouvi inacreditável discurso da Benedita da Silva, toda paramentada de madame, em frente ao Othon com a Av. Atlântica interditada num domingo...

Interrompi a babozeira loquaz dando pitacos procedentes, mas a ‘pobre, negra e favelada’ – que só sobrou o negra – continuou resoluta embora sempre voltando o olhar imenso esbugalhado em minha direção para ver ser aquela insignificante criatura taxista não estaria disposta a lhe estragar o programa dominical com vista para o mar de Copacabana...

Na véspera da reeleição do Lula, fiz uma cagalhopança muito maior...

Quase acaba em mierda...

Enquanto uma carreata petista remunerada passava pela Presidente Vargas resolvi exercer meu direito de oposição gritando ‘mercenários, mercenários, vendidos, vendidos...’; eles mandaram eu parar o carro, se fosse homem...

Parei meio que a contragosto e cabreiro...

Cenicamente foi excelente, mas quase acaba em tragédia caso a PM e a Guarda Municipal – tá vendo como tenho motivos para gostar da GM que muitos acham que odeio só por causa daquele vídeo no Catete? - não tivessem intervido, embora eu preferia comprovar se algum deles teria coragem de colocar um dedo sequer num botão da minha camisa sem me tirar morto dali agarrado a um único valente deles, com meu dedo indicador inteiro dentro de seu globo ocular, que só ficavam empurrando para cima de mim os que estavam na frente e os de frente ficavam recuando para não me encostar...

Narrei aqui no blog como crônica de ficção...

E, quem me conhece, duvidou que eu estaria brincando na narrativa de ficção...

Depois de tanto tempo posso confessar: o taxista idiota era eu mesmo...

Evidente...

Não devem existir dois desmiolados na mesma cidade...

Mas tudo fica no mais ou menos...

Nada prático...

Até porque sou pacatíssimo...

E pouquíssimas vezes saio do sério, a não ser quando o deboche foge do controle...

Queria ter tempo para ficar com uma megafone na Avenida Rio Branco com Presidente Vargas convocando pessoas para sentar no chão – onde eu colocaria almofadas - e conversarmos sobre política...

Como quem bate um papo no boteco...

Tomaríamos um cerveja em lata, nos abraçaríamos e cantaríamos o Hino Nacional...

Claro, eu abraçaria com mais emoção as mulheres lindas e as feias et homens simplesmente devotaria um acalorado aperto de mão...

Iríamos engrossando o número de adeptos até criarmos uma nova legião de homens e mulheres do bem...

É ficção?

Que nada, um dia ainda vou realizar isto...

Vou criar um parlamento unicameral alternativo já que as instituições formais estão falidas...

Uma Sociedade de Poetas Mortos...

Quando vejo auto-denominados formadores de opinião que são mais ‘empurradores de opinião’ com medo me dá arrepios...

Diógenes Laércio algum dia iluminará pelo menos um canto empoeirado de alguma alma enviada...

Agora, minha senhora e meu senhor, por quê eu e você que adoraríamos mudar esta mierda del tercer mundo global ficamos ‘esperando a morte chegar’ para lapidar em nosso jazigo algo bonitinho para encher de lágrimas os olhinhos de nossos netinhos lindos contemplando um túmulo ao invés de fazermos em vida algo significante?

'O que você precisa para evoluir...

O que você precisa pra sair daí... '

Duvido que tenhamos um adormecer natural sem aditivos até que algum de nós mostre a eles do que somos capazes...

Alguém se habilita?

Não?!

Então vou sozinho mesmo!




Jorge Schweitzer





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