segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Bebês gêmeos jogados do 4º andar pela mãe retornam para casa






Ney Rubens


A casa é pequena, bem simples e com sinais evidentes de desgaste provocado pelo tempo. Nas paredes descascadas e na laje, muitas infiltrações e mofo. O sofá recebeu um forro para não denunciar o tecido rasgado. Só que nada disso importou, nesta terça-feira, para o pai e a avó dos gêmeos de um ano e cinco meses que foram jogados pela mãe do 4º andar de um prédio no último dia 7 de dezembro.

A sala acanhada da moradia que fica em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, foi o lugar ideal para os pequenos Gustavo e Pedro brincarem à vontade, depois de 20 dias sob cuidados médicos. O último a deixar o hospital foi o pequeno Pedro Henrique, que sofreu traumatismo craniano e ficou internado durante 20 dias no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, na capital mineira. O irmão, Gustavo Henrique, quebrou o fêmur e já havia recebido alta na semana passada. Daqui a 10 dias ele voltará ao médico para verificar se o gesso já pode ser retirado da perna esquerda.

"Estou muito feliz de estar com meus filhos aqui em casa. O que eu quero agora é cuidar deles, ser feliz com eles", disse, sorridente, o pai Thales Gladimir Balduíno, 23 anos, que trabalha como repositor de mercadorias em um supermercado. "Esse aqui (Pedro) chegou ontem e já faz uma festa danada. Eles são muito felizes. Eu não tenho palavras para falar o que eu estou sentindo agora. O que eu mais quero agora é dar o que eles mais precisam que é amor, carinho e muita dedicação porque eles são bebezinhos", comemorou a avó, a dona de casa Ana Cristina Balduíno, 44 anos.

Felizes com o primeiro dia dos gêmeos em casa, mas ainda abalados com a quase tragédia, mãe e filho disseram não saber qual o motivo para a mãe dos meninos, Gisele Pereira Fonseca, 25 anos, ter jogado os filhos pela janela do 4º andar do apartamento onde mora na cidade de Sete Lagoas, a 70 km de BH.

"Não sei o que aconteceu com a mãe deles, mas creio que ela surtou. Ela é muito nervosa. Eu fiquei sabendo quando os vizinhos dela me ligaram avisando o que tinha acontecido, que ela havia jogado meus netinhos do 4º andar, de uma altura de mais de 12 m. Ela parecia ser normal, apesar de ser nervosa. Até hoje eu não sei o que realmente aconteceu", disse a avó.

"Até agora não sei o motivo para ela fazer isso, mas quero que ela pague pelo que ela fez", completou o pai dos bebês, que disse estar separado de Gisele, com quem manteve "um relacionamento conturbado, com muitas crises de ciúmes". Segundo Thales, a ex-mulher já havia ameaçado fazer algum mal aos filhos caso eles se separassem: "Há um tempo ela ameaçou matar os meninos, mas não levei a sério", disse.

Gisele foi presa em flagrante e encaminhada a um presídio de Sete Lagoas, onde permanece detida. Ela foi denunciada pela própria mãe, Fátima Alves Fonseca, que viu os netos sendo jogados pela janela. Um processo por tentativa de homicídio qualificado foi instaurado na 1ª Vara Criminal do Fórum de Sete Lagoas. No site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais ainda não constava, até esta terça-feira, o nome e registro do advogado que foi nomeado para defender a dona de casa. Quando foi presa, Gisele admitiu à polícia que tentou matar os filhos, segundo ela devido às constantes brigas que tinha com o pai dos meninos.

O pai e a avó estão com a guarda provisória de Gustavo e Pedro. A Vara da Infância e Juventude de Sete Lagoas ainda decidirá quem ficará com a guarda definitiva, pleiteada também pela família da mãe dos bebês. O Conselho Tutelar responsável pelo acompanhamento das crianças quando elas moravam em Sete Lagoas sugeriu à Vara da Infância que seja feita uma avaliação das duas famílias antes que a decisão seja tomada.

Enquanto não há uma definição, os gêmeos serão criados pelo pai, que já foi preso por roubo, mas que disse estar confiante em conseguir a guarda definitiva: "Tenho condições de cuidar dos meus filhos e minha família vai ajudar. Eles não podem ir para um abrigo porque têm pai. Eu quero que eles fiquem comigo", disse.

Correria e Desespero
O porteiro Richard Nixon Fonseca foi uma das pessoas que ajudou a socorrer os gêmeos Gustavo e Pedro: "A avó pegou e trouxe as crianças até aqui na portaria. Eu parei dois carros. Uma estava desmaiada e outra chorando muito - essa foi em um dos carros com a avó. Tinha uma enfermeira aqui, por coincidência, que foi com a outra. Não deu tempo de pensar. Foi o tempo de levar os meninos para o hospital porque eles estavam muito machucados", contou.

Nixon disse que Gisele chegou a descer para ver se os filhos haviam sido socorridos: "Ela chegou na portaria do prédio, ficou olhando. Quando viu que os meninos tinham sido levados para o hospital, entrou no apartamento e trancou a porta. Pouco tempo depois chegou a polícia e a prendeu", afirmou.

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