terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A passageira me oferece uma bala de caramelo...

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Foi semana passada...

Acho que segunda feira...

- O senhor aceita uma bala?

- Ih, obrigado! Fico muito tempo sem experimentar balas, guardo para ocasiões especiais quando lembro de minha infancia, é delicioso; uma viagem...

- Eu sempro tenho carregado balas comigo ultimamente, para adoçar minha boca que tem estado amarga...

- Que nada, a vida é ótima; sempre tem algo bom... ' tento incentivá-la

- Prá mim, não... Estou atravessando uma fase complicada, minha filha acaba de perder o esposo...

- Que houve; acidente, ataque do coração?

- Não, ele foi morto a tiros durante um assalto...

- Poxa, que barbaridade; como foi?

- Completa um mes somente dia 4 próximo; ele era médico reumatologista e retornava do consultório em Cascadura; foi abordado por motoqueiros na Rua Marechal Rondon que bateram com a arma no vidro do seu carro; ao saltar do veículo foi baleado...

Lembrei do caso, trata-se do médico William da Silva Castro Alves, de 54 anos, que foi morto com tiro na cabeça quase no mesmo local em que Rodrigo Netto, guitarrista da banda Detonautas foi assassinado num assalto idêntico...

Naquela noite eles aguardavam Dr. William em casa por volta de 20h30min e somente começaram a preocupar-se por volta de 23h30min quando alguém da família entrou na Internet e descobriu a tragédia

Ela me conta que a família está prostada...

Ainda estão sem rumo...

Estaciono na Avenida Oswaldo Cruz, quase em frente a casa do Comandante da PM...

Ela me paga e continuamos conversando...

Ela parece querer falar mais...

Conversamos muito...

A gente fica meio que sem condições de achar uma palavra adequada qualquer quando ficamos tão próximos de tragédias alheias...

Acabamos compartilhando a dor que acaba nos envolvendo...

É duro aceitar que nossa comoção acaba na próxima página, quando o cotidiano nos empurra para outra incidente equivalente...

E deixa somente a família como vítima da dor e da indignação com mais um crime sem solução...


Nossos mortos estão virando números...

Estamos nos acostumando...




Jorge Schweitzer









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