sábado, 13 de novembro de 2010

Jorge Schweitzer, o Taxista Invisível Salvador da Pátria...

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NÃO VEJO MEU ROSTO NO ESPELHO…

Somente o pincel de barba e a moldura de uma face espumada suspensa no ar à altura de onde deveria estar minha imagem...

Me apalpo…

Ainda estou aqui…

Corro até a sala à procura do enorme espelho da parede…

Minha bermuda vazia refletida solitária erguida no meio do nada com aquela saliência da manhã…

Sento no chão mesmo, a espera que tudo seja um sonho aflitivo…

Pelo espelho verifico que somente a bermuda está sentada…

- Filho acorda, não estou me sentindo bem…

- Onde você está?

- Aqui, filho. Não está me vendo?

- Pára de brincadeira, deixa eu dormir mais um pouquinho…

- Filho, acho que estou invisível!

- Meu Deus, como o senhor conseguiu isto?

- Sei lá, fiquei...


E agora, como vou sair para trabalhar?

Ninguém vai querer entrar em um taxi dirigido por ninguém…

Penso em ir ao médico…

Mas ele vai examinar quem?

Começo a ficar nervoso e, transparente, nem sei se estou branco de susto…

Caratzo, logo agora que as coisas começam a dar certo eu desapareço…

Meu filho tenta me convencer que será ótimo para entrar em quartos de mulheres bonitas e vê-las trocando de roupa…

Fico aborrecido com o deboche e dou-lhe um esporro, mas até que não é má idéia…

Procuro rememorar o que poderia ter me deixado nesta situação…

A única coisa diferente que entrou aqui em casa ontem foi o garrafão de água enviado pelo depósito de bebidas…

Bebo um gole de água da torneira e volto a ficar visível…

- Pai você voltou. Tá vendo, foi água do garrafão. Deixa eu tomar um pouquinho também?

- Não se aproxime desta água. Você invisível vai fazer muita merda!

Saio para trabalhar levando uma garrafinha da poção mágica como o Pateta enche os bolsos de amendoim para virar Super…

Às dez horas resolvo tomar um golinho…

Além de ficar invisível descubro que me transporto de um lugar para outro à velocidade da luz…

Deixo o táxi e minhas roupas no estacionamento e dou um pulo à Brasília…

Subo a rampa sem que nenhum soldado da guarda pretoriana do Planalto me interpele…

Adentro o gabinete do Lula…

Ele está no sofá rodeado de (soluços) ACMimizinhos, Sasarneys, Calcaheiros, Rerebellos, Didirceus, Didilmas e Jojobins (este mesmo, não o da Garota de Ipanema)…

Peladão no meio deles, observo como eles dão gargalhadas…

Lula chega a chorar de rir de suas próprias piadas sem graça e um cheiro forte de marafo envolve o ar…


Resolvo circular pelo Poder…

Na Câmara me posiciono ao meio das rodinhas de Parlamentares para descobrir o que eles tramam...


Só escuto cifras e cifrões...


Entro no Senado com aquele cheiro de velho mal lavado...

Passo pelo Sarney. tenho vontade de dar-lhe um soco no olho…

Me contenho, me contenho…

Retorno ao Rio, convencido que posso mudar o curso da história…

Vou dar expediente em Brasília, de Terça à Quinta (claro) e ficar atrás da mesa do Presidente e cada vez que ele for fazer uma cagadza intervenho aplicando-lhe uma gravata imobilizadora tipo mata-leão virando o rosto para não ser nocauteado pelo bafo de branquinha e dando-lhe uma dedada para voltar a razão...

Chego em casa e estranhamente meu filho ainda não retornou da escola, embora seu uniforme jaz jogado no chão do banheiro para eu lavar…

A televisão liga sozinha e escuto meu filho dar uma gargalhada…

- Pai estou invisível, também; beijei todas as garotas da minha escola hoje…

- Eu falei para você não beber! Você não me obedece mesmo. Vou jogar esta mierda fora!

- Não faz isto não, pai. Combinei com meus amigos de assistirmos um show de striptease no Cicciolina e esticar na Barbarella...

- Jesus, Maria and Josep, tô fudido e mal pago.

- Só uma vêzinha, pai... Por favor...

- Tudo bem...

- Ôba!Você é o melhor pai do mundo!

- Posso ir junto?




Jorge Schweitzer






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