terça-feira, 23 de novembro de 2010

Carlos Gadelha - Presidente do Sindicato dos Policiais Civis - fala dos Ataques no RJ para o "Táxi em Movimento"...

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Tropeçando nas Próprias Pernas


Em 2007 pude acompanhar de perto um trabalho que culminou na implantação na UPP do Santa Marta. Naquela época eu trabalhava na 12ª DP e investigava a quadrilha que controlava o tráfico de drogas das favelas da Ladeira dos Tabajaras e do morro dos Cabritos. Essas investigações demonstraram que a equipe da P2 do 2º BPM (Botafogo) vinha fazendo um excelente trabalho de combate ao tráfico de drogas das favelas Santa Marta, Ladeira dos Tabajaras e Cabritos, três comunidades controladas pela mesma quadrilha. Diante do bom trabalho feito pela P2 entrei em contato com os colegas da PM e trocamos informações que auxiliaram as investigações da 12ª DP e as incursões do 2º BPM. Por diversas vezes acompanhávamos as incursões do 2º BPM na sala de escuta e passávamos informações em tempo real para os PM. Foram diversas prisões e apreensões de armas e drogas. Algum tempo depois quando o tráfico do morro estava muito fragilizado a PM ocupou a comunidade e implantou a UPP do morro Santa Marta que, até hoje é modelo de policiamento.

No entanto, parece que o sucesso desta primeira UPP deixou o Governo do Estado confiante de que poderia estender esse modelo de policiamento para outras comunidades. Mas o clamor popular e a proximidade das eleições fizeram com que o Governo deixasse de tomar cuidados fundamentais para que a sociedade não sofresse os efeitos colaterais das ocupações. Era óbvio que os traficantes expulsos migrariam para outras favelas dominadas pelo tráfico e que essas favelas não teriam como absorver essa mão de obra o que obrigaria os “desempregados” a mudar de “ramo” e descer para o asfalto e praticar roubos.

Sendo assim, antes de ocupar as comunidades é imprescindível que se faça um trabalho de enfraquecimento do tráfico com prisões e apreensões de drogas e principalmente de armas para que esses traficantes não migrem para outras comunidades com seu arsenal bélico. Mas o período eleitoral deixou os governantes cegos e as UPP se multiplicaram nos últimos 12 meses de forma indiscriminada. Não foi respeitado o trabalho de inteligência antes da ocupação. Presenciamos um oba-oba onde as UPP se tornaram os cabos eleitorais do Governo do Estado e as implantações destas passaram a ser anunciadas e feitas sem um trabalho de enfraquecimento prévio do tráfico.

Com isso, o governo apenas desalojou os traficantes que passaram a sair passivamente das comunidades com suas armas e seus soldados, cada vez mais se concentrando em outras favelas cuja venda de drogas não comportaria a todos. O lixo foi varrido para debaixo do tapete e foi se acumulando a ponto de se tornar um monte capaz de fazer o Governo do Estado tropeçar como estamos vendo nos últimos dias. Mas não podemos acusar o Governo do Estado de incompetente, nada fugiu do planejamento, afinal, o objetivo foi plenamente atingido e ainda no primeiro turno.

Carlos Gadelha – Presidente do Sindicato dos Policiais Civis




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