Ser pobre...

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Você somente se certifica que é pobre mesmo quando...

Sai de sua portaria e encontra aquele indefectível vendedor de edredon; colcha; cesto de vime; espelho e travesseiro na sua esquina...

Se você é pobre sabe do que estou falando...

É um sujeito que vende uns troços a prestação...

Tipo caixeiro viajante...

É uma praga...

Quem mora no Alto Leblon não deve saber do que estou falando...

Mas, quem mora em Vila Catiri sabe...

Este indicativo pode até servir para identificar se você é pobre ou finge que não...

Quem mora no Recreio dos Bandeirantes é um sujeito que mierda alguma mas se acha...

Tempos atrás comentei por aqui que uma amiga tinha apartamento na Av. Lúcio Costa no Recreio...

Ela me retornou iradíssima, toda madame:

- Recreio o cacete, Schweitzer, aqui é Barra da Tijuca; não sou ex-suburbana vitoriosa evangélica...

Recreio deve ter o tal vendedor de edredon porta-a-porta...

Porém...

Se você sabe da existência do vendedor de edredon à domicílio, você é pobre...

Não tem conserto...

Se você já comprou o tal edredon ou colcha à prestação, então, não tem mais como desmentir...

Você pode até tentar dissimular que o caixote de vime era legalzinho para colocar no quarto da sua empregada...

Não adianta...

Você é pobre...

Querem outros indícios?

Avon bate sua porta!

Jequiti!

Natura!

Todo pobre tem algum familiar em dificuldades que vende Natura, Plano de Saúde ou Herbalife...

Sempre!

Todo pobre recebe ligação a cobrar, pior, de outro pobre...

Mais?

Todo pobre tem alguém da família que é taxista...

É mortal!

E se você ainda conserva pose de rico mas tem qualquer vínculo com alguém que dirige táxi?

Trate de se afastar...

Pobreza é coisa que gruda...

Tô fora!




Jorge Schweitzer