domingo, 14 de julho de 2013

Black Bloc, segundo O Globo


Foto de Marcelo Theobald - O Globo



Black Blocs: a violência como tática e referências confusas 

Acusados por confrontos citam Mao Tse Tung e curtem desenho animado 


SÉRGIO RAMALHO 



RIO — Eles são centenas — nas manifestações da última quinta-feira foram estimados em mais de 300 — e vêm de diferentes bairros do Rio e de cidades da Região Metropolitana. 

São jovens, a maioria tem menos de 25 anos, frequentam universidades e escolas secundárias. 

Os rostos invariavelmente estão ocultos. 

São os integrantes do autodenominado Black Blocs, grupo geralmente apontado como estopim dos confrontos em manifestações iniciadas de forma pacífica. 

Por trás das máscaras, capuzes e roupas pretas, uma miscelânea de referências, muitas delas contraditórias, ditam o comportamento do grupo, majoritariamente formado por homens. 

Entre eles, não há uma liderança estabelecida. 

Comunicam-se por meio das redes sociais. 

Mantêm perfis no Facebook e no Twitter, nos quais descrevem a participação nas manifestações. 

Num relato publicado poucas horas após os confrontos com a PM nas cercanias da Cinelândia, na última quinta-feira, o grupo nega responsabilidade pelo início do conflito, por volta das 18h, quando uma caixa carregada de coquetéis-molotov foi encontrada na esquina das avenidas Rio Branco com Almirante Barroso. 

No texto, escrito em bom português, o grupo diz que o material foi deixado por “homens caracterizados no velho estilo P2 (o serviço reservado da PM). 

Todos mais velhos, aparentando mais de 40 anos e em cima de suas vigorosas barrigas”. 

A PM, por sua vez, nega e diz que o material foi encontrado por sindicalistas, que alertaram os policiais. 

Na prática, a alcunha de “tropa de choque dos protestos” adotada pelo grupo cai por terra durante as passeatas. 

Os Black Blocs não se integram aos demais manifestantes. 

Por diversas vezes, durante o ato das centrais sindicais, integrantes do grupo hostilizaram sindicalistas, estudantes e populares. 

Usando megafones, xingaram os sindicalistas que pediam aos participantes do ato que não usassem máscaras e, sobretudo, não insultassem os PMs, que, até então, apenas acompanhavam a passeata. 

Nem mesmo um grupo autodenominado anarquista escapou da hostilidade dos Black Blocs. 

Uma contradição. 

Na página deles no Facebook, uma frase do ativista anarquista italiano Errico Malatesta (1853-1932) é usada como referência. 

A análise das timelines dos integrantes do grupo revela uma miscelânea de referências, que vão de Mao Tse-Tung a desenhos animados. 

Um dos jovens mais radicais — que defende ataques à imprensa e cita um episódio ocorrido no Rio Grande do Sul, onde fezes de porco foram lançadas numa emissora de TV — curte as animações “Family guy” e “American dad”. 

Outro integrante do grupo, estudante de Agronomia na Universidade Federal do Paraná, tem Jean-Paul Marat (1743-1793) como imagem de perfil. 

Marat era conhecido como jornalista radical e político da Revolução Francesa. 

Há ainda fotos do universitário, enfiado numa camisa de gola polo Ralph Lauren, bebendo chope no principado de Mônaco.




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