quarta-feira, 6 de março de 2013

O Chapolin Samaritano Sem Destino...







Hoje acompanhei uma amigo até uma delegacia...

Após ter um dia incomum de vários contratempos, más notícias  e cansaço após a chuva de ontem que me  deixou ilhado sem conseguir voltar pra casa...

Mas, por algum motivo inexplicável...

Acham que sou algo como versão taxista tupiniquim masculino da Madre Teresa de Calcutá...

Ou o chofer obsequioso  de Driving Miss Daisy... 

Puerra alguma, eu estava putzo...

Eu não queria, nem necessitava estar por lá...

No trajeto tive oportunidade de escutar do amigo que além do problema a ser solucionado na DP ele estava com dificuldades financeiras, brigou com a patroa, colégio da filha atrasado e aguardava que tudo fosse rápido por lá...

Daí, não aguentei o chororô:

- Olha só, tem um cidadão com uma pistola na cintura e uma insígnia no peito que nos irá atender; aproveita a deixa e fala tudo isto pra ele...

Ele riu de mim...

Curioso como todos acham que a gente não tem problemas e alguma compulsão Mãe Dulce nos leva a abraçar todos incorporando um Samaritano boboca de desenho animado da Record...

Nunca recebi telefonema de alguém querendo saber realmente como eu estou...

Mas procuro não reclamar...

Quer dizer, mais ou menos...

Logo após sair da tal delegacia peguei uma passageira...

Quando começou a relatar que sua vida estava uma merda pensei naquele martelo do borracha do Chapolin Colorado para lhe desferir uma porrada de brincadeira na testa...

Contou que estava circulando desde ontem de madrugada entre hospital e IML após uma amiga ser morta com tiro na nuca...

A amiga chamaria-se Caiane (assim mesmo com C) e estaria na cama vendo TV quando a bala entrou pela janela da casa da favela pacificada no último final de semana...

Diz que preferível que não tenha divulgação porque o tiro foi desferido por bandido da comunidade...

Me prontifico para repercutir na Rede e ela parece achar que estou blefando feito um Chaves sem querer querendo...

A deixo na Central e pego um cidadão à caminho de São Cristóvão...

- Pode me deixar naquela rua de bancos que não sei o nome...

- Ok!

Pelo rádio do carro comenta-se a morte de Chorão do Charles Brown Junior...

- Tá vendo, motorista, isto que dá se meter com drogas?

- Pois é...

- Eu mesmo já tive um irmão viciado que deu muito trabalho à família, começou a sumir com eletrodomésticos de casa e roubou a pensão da minha mãe todinha...

Tento me desligar como um botão Mute...

Penso em todas mulheres que jamais terei...

Penso em águas calmas do Caribe que só entrei uma vez somente...

Penso em minhas viagens de motocicleta a 200 por hora na estrada com a viseira levantada...

Penso na possibilidade de inventar botão ejetor de passageiros...

Penso na minha amada...

Penso na minha vó, tadinha...

Finalmente chegamos a Rua São Cristóvão...

- Quatorze e cinquenta, amigo!

- Poxa, taxista, valia muito mais... Eu sempre quis desabafar sobre este problema e somente hoje consegui alguém que me escutasse... O senhor é muito gente, sabe?

- Sei?!




Jorge Schweitzer






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