sábado, 9 de março de 2013

Boate Kiss: 6 serão indiciados por homicídio doloso qualificado pela tragédia de Santa Maria






Terra 

O inquérito que investiga a tragédia da Boate Kiss está chegando à reta final. 

A Polícia Civil de Santa Maria (RS) já tem algumas certezas sobre os indiciamentos, mas restam muitas dúvidas. 

 A maior convicção é a respeito dos quatro presos: os sócios da Kiss Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr e os dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira - o vocalista, Marcelo de Jesus dos Santos, e o produtor musical Luciano Bonilha Leão. 

Eles devem ser indiciados por homicídio doloso qualificado - foram 241 vítimas -, com o componente do dolo eventual (quando o autor assume o risco de matar, mesmo sem querer que isso aconteça) e por tentativa de homicídio doloso contra cerca de 500 pessoas. 

 Também devem ser indiciados, pelos mesmos crimes, pessoas ligadas à boate e que, de alguma forma, exerciam funções na casa noturna, como a irmã de Elissandro, Ângela Aurélia Callegaro, que ajudava na organização das festas e era figura presente na Kiss, e o cunhado dele, Ricardo Gomes, que por vezes exercia o papel de gerente. 

Assim como a irmã de Kiko, a mãe dele, Marlene Terezinha, também era, no papel, uma das sócias da Boate Kiss, mas nunca teve relação alguma com o funcionamento do estabelecimento. 

Por isso, ela pode ser indiciada somente por falsidade ideológica. 

A participação dos demais músicos da banda Gurizada Fandangueira ainda está sendo avaliada. 

A possibilidade de eles serem indiciados ainda é pequena. 

Quando o foco se volta para as responsabilidades ligadas à prefeitura e aos bombeiros, o caso se torna mais difícil para a Polícia Civil. 

Quem assinou alvarás liberando a Kiss no que se refere à prevenção a incêndios está na mira. 

Na prefeitura, a participação de fiscais e secretários municipais nas permissões dadas à casa noturna também é avaliada. 

Mas a confusa e vasta legislação a respeito do assunto dificulta bastante o trabalho. 

Por isso, mesmo com o inquérito chegando quase ao seu final, essa questão é tratada com muito cuidado. Mesmo assim, já há uma tendência de que agentes públicos respondam por prevaricação (quando um funcionário público deixa de desempenhar sua função em beneficio de um terceiro). 

Uma projeção positiva de um policial ligado ao caso prevê quase 20 indiciamentos, em graus diferentes, tanto com relação ao incêndio quanto a uma suposta omissão do poder público. 

É praticamente certo que haverá indiciamentos ligados à prefeitura e aos bombeiros. 

Mas esse é um suspense que vai durar pelo menos até a próxima quarta-feira, quando o inquérito pode ser concluído. 

Não se descarta que o termino da investigação seja postergado alguns dias. Secretário e chefe de Gabinete vão depor na terça-feira Para ajudar a Polícia Civil no emaranhado de leis que regem a responsabilidade do poder público no que diz respeito à liberação de alvarás para a Kiss, depoimentos ligados à prefeitura ainda estão programados. 

Pelo menos cinco pessoas ainda devem ser ouvidas. 

Há servidores intimados, mas também há quem exerça cargos mais importantes. 

Para a próxima terça-feira, estão programados os depoimentos do secretário de Relações de Governo e Comunicação, Giovani Manica, e da chefe de Gabinete, Magali Marques da Rocha. 

A Polícia Civil quer saber o que eles têm a dizer sobre as atividades de fiscalização da prefeitura e se algum deles tem relação com qualquer dos investigados no caso. 

 Outro que será ouvido nos próximos dias é o atual comandante regional dos bombeiros, tenente-coronel Moisés da Silva Fuchs. 

Mas a grande maioria de pessoas chamadas para comparecer à 1ª Delegacia de Polícia Civil (1ª DP) é mesmo formada por vítimas. 

Projeção é que havia mais de 900 pessoas na Kiss Cerca de 350 que estavam na lista de atendimentos fornecida pela Secretaria Estadual da Saúde ainda não haviam aparecido no inquérito. 

Todas estão sendo localizadas e convocadas a depor. A Polícia Civil ainda não sabe se todas elas estavam na boate, na madrugada do incêndio. 

Na sexta-feira, chegou mais uma lista: a das pessoas que receberam primeiros socorros na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), o que pode aumentar o número de depoimentos. 

Ainda não se sabe se há nomes que se repetem em outras listas. 

Como o inquérito está na fase final, a Polícia Civil tem pressa para localizar e ouvir essas pessoas. 

Por isso, para este sábado, estão programados 20 depoimentos na 1ª DP. 

Ainda será decidido se o domingo também será de portas abertas na delegacia. 

A partir de segunda-feira, haverá cerca de 30 depoimentos por dia. 

Com as listas enviadas pela Secretaria Estadual da Saúde e os cruzamentos feitos até agora pela Polícia Civil, a projeção é que, na madrugada do incêndio, haveria mais de 900 pessoas na Kiss. 

A lotação do local era de 691 pessoas. 

Donos da Kiss ainda não foram ouvidos novamente 

Nas contas dos investigadores, também estão os depoimentos dos quatro presos. 

Na sexta-feira à tarde, os delegados Marcos Vianna e Gabriel Zanella foram até a Penitenciária Estadual de Santa Maria para ouvir novamente o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos. 

Acompanhado por seu advogado, Omar Obregon, ele não trouxe muitas novidades ao caso, repetindo o que disse no primeiro depoimento. 

Nesta segunda-feira pela manhã, será ouvido o outro integrante do grupo que está preso, o produtor musical Luciano Bonilha Leão. 

Os depoimentos dos sócios da Boate Kiss, que também estão presos preventivamente, ainda não foram agendados. 

Elissandro Spohr, o Kiko, deve ser ouvido na terça-feira. O de Mauro Hoffmann ainda depende de uma decisão judicial. 

O advogado dele, Mário Cipriani, entrou com uma petição na Justiça solicitando que seu cliente não seja reinquirido. 

De qualquer forma, a tendência é que Hoffmann não diga nada.




PS: Mais de duas centenas de jovens mortos exige uma resposta dura e sem titubeios do Judiciário... Nenhum dos indiciados saiu de casa para matar jovens mas assumiram o risco por descaso, desleixo ou ganância... A Lei serve exatamente para punir severamente responsáveis por estes episódios e evitar outros similares... Não cabe complacência, frouxidão ou condescendência... Familiares e amigos merecem uma explicação para a perda inexplicável e punição dos responsáveis... Jorge Schweitzer


  







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