A moça de Copacabana que queria conhecer Washington DC, no Canadá

Foi ontem...

Copacabana...

17h 40min...

Um gringo de meia idade faz sinal na Rua Viveiros de Castro com uma mala ao lado e uma moça loura de baixa estatura ao outro...

Ela informa que querem ir -  primeiro - ao Aeroporto, não sabe qual...

Ele soletra, com dificuldade: GIG...

Pronto, Galeão...

Nunca tive curiosidade de saber por quê o GIG...

G é Galeão, I internacional...

E o outro G, gare?

Não sei...

Mas, desde a criação do Aeroporto Internacional do Rio ele é conhecido por GIG...

Quem já viajou reconhece que na etiqueta que afivela malas existe esta sigla...

Depois ela quer voltar para o Estácio...

Pergunta se é caminho...

Mais ou menos...

Impossível explicar itinerário carioca para alguém que não diferencia centro do RJ de Ilha do Governador...

Pego engarrafamento colossal, como o Rio de Janeiro inteiro se transformou...

Eles namoram no banco de trás enquanto escuto o Rock Bola na Bradesco FM...

Sigo pelo Humaitá tentando acessar o Túnel Rebouças...

Tudo parado...

Mais parado ainda certamente estaria a outra única opção, a Lagoa Rodrigo de Freitas...

De repente, ela me pergunta que caminho peguei...

Ela não conhece nada mas resolve somente me testar...

O cidadão diz que ela deve confiar em mim...

Pronto, descubro que ele fala uma mistura de portunhol com francês facílimo da gente se comunicar...

Ele é canadense, vive em Hanover...

Se empolga ao identificar que pode interagir comigo...

Abandona seus abraços e beijos prá lá e passa a trocar informações...

O trânsito começa a andar, finalmente...

Por vezes a moça loira entra na conversa e forma frases como em linguagem indígena com sotaque canadense  para seu amado entendê-la também: 

- Nóis eeexnstaaarrrr quaji acheganduuuu, tacxiiistaaaa?

Respondo:

- Falta pouco, depois de pegarmos o Túnel sairemos na Linha Vermelha que estará parada na altura do Hospital do Fundão e a partir dali, em dez minutos chegaremos...

O canadense elogia que tenho muito paciência em aguentar engarrafamento sem me irritar...

Explico que é minha profissão, se eu me aborrecer não irá adiantar nada...

Conto que o RJ é o terceiro pior trânsito do mundo, SP o sétimo e a Cidade do México o primeiro lugar...

Retornam a namorar, naquela cena constrangedora onde evito olhar bitocas glut glut pelo retrovisor...

Chegamos, o vôo é American Airlines no Terminal 2...

19h 20min...

Total da corrida: 73 reais...

Aviso que se ela irá retornar comigo até o Estácio é melhor não zerar o taxímetro para evitar de pagar nova bandeirada...

Pego a mala no bagageiro e aperto a mão do canadense lhe desejando boa viagem...

Retribui:

- Você é muito legal!

Para estrangeiro que já decifrou que legal é também bacana, ele está aprovada na gramática morfológica e sintática da malandragem tupiniquim...

A moça se despede dele  várias vezes enquanto a aguardo sentado ao volante...

Retorna...

Pergunta se pode fumar no carro...

- Não, desculpa é proibido por Lei...

A loira baixinha resolve desabafar...

Diz que ele é professor de teatro e ator...

A convidou para morar no Canadá, ela está na dúvida se vai...

Me conta que teve vontade de chorar na despedida...

- Por quê não chorou, moça?

- Chorei, só que por dentro...

Engraçado, prostituta brasileira é a única profissional do planeta que se apaixona pelo freguês...

Não importa sua dor, ela está entusiasmada pelo novo achado...

Ele pediu que ela  tirasse passaporte, deixou até os 150 reais para pagamento das taxas federais...

Ela está empolgada...

Disse que quer conhecer Washington também...

O gringo lhe prometeu levá-la até Washington, Paris, Lisboa, New York; tudo na mesma semana...

- Moça, Washington não é no Canadá...

- E, fica longe?

- Deixa eu te explicar, para você chegar em Washington necessita de visto americano...

- É, o gringo me falou que além do passaporte terei que ver esta coisa de visto e ele me levará à Washington...

- Moça, aí será mais complicado...

- Como assim?

- Você passará por uma entrevista mostrando sua declaração de Imposto de Renda,  informar a razão de querer entrar em território americano...

- Ah, taxista, sem problemas: digo que vou trabalhar lá...

- Moça, entre você dizer que pretende trabalhar em Washington e informar a imigração que pretende assassinar o Barack Obama dá na mesma...

- Credo, taxista, não dá para entender esta democracia toda só para visitar Washington...

- É burô...

- Quê?

- Deixa prá lá...

Chegamos na Maia Lacerda...

20h 05min...

Total da corrida:

110 reais...





Jorge Schweitzer