domingo, 20 de abril de 2014

Quebra de sigilo bancário e telefônico de Leandro Boldrini poderá comprovar sua participação na morte do menino Bernardo







Contas bancárias podem ser a chave para comprovar envolvimento do pai no crime Polícia Civil se concentra em tentar comprovar que Edelvânia e Graciele mataram garoto por dinheiro 

Carlos Wagner, Humberto Trezzi e Maurício Tonetto 
carlos.wagner@zerohora.com.br; 
 humberto.trezzi@zerohora.com.br; 
mauricio.tonetto@zerohora.com.br 

Policiais civis correm contra o tempo para esclarecer todos os detalhes da morte de Bernardo Boldrini, 11 anos, de Três Passos. 

Começam a investigar as contas bancárias dos três presos pelo envolvimento no crime. 

Desde a descoberta do cadáver do garoto (cujo corpo estava ensacado e enterrado numa cova rasa no município de Frederico Westphalen), há uma semana, a Polícia Civil se concentra em tentar comprovar que a assistente social Edelvânia Wirganovicz e a madrastra do menino, Graciele Ugulini, mataram o garoto movidas por dinheiro. 

E que, de alguma forma, o pai de Bernardo, o médico Leandro Boldrini, está envolvido. 

A principal prova é o estarrecedor depoimento de Edelvânia, que admite ter ajudado no assassinato inclusive abrindo a cova, dias antes – movida pela promessa de auxílio para pagar R$ 96 mil de dívida com um apartamento recém-comprado. 

O dinheiro seria repassado por Graciele, que odiava o enteado e que temia ser preterida nos bens adquiridos com o marido Leandro Boldrini, caso o menino Bernardo herdasse a clínica e os imóveis do pai. 

Os policiais desconfiam que Boldrini sabia do plano de assassinato, mas levaram uma "ducha de água fria" quando Edelvânia declarou, no depoimento: não, o médico não sabia. 

Edelvânia teria ouvido de Graciele: 

– O Leandro não sabe, mas no futuro vai dar graças por se livrar do incômodo. ZH falou com agentes envolvidos na investigação. 

Eles estão divididos quanto ao envolvimento do médico Boldrini. 

Alguns estão convictos de que ele ajudou a planejar o crime. 

Outro acham que não, que ele era apenas desleixado com Bernardo e não demonstrava afeto – fato que facilitou os planos da madrasta em liquidar o enteado. 

De qualquer forma, todos estão convencidos de que ele ajudou a ocultar o fato quando soube. 

Mesmo os que apostam no envolvimento de Boldrini no bárbaro assassinato têm dificuldade de comprovar isso. 

Primeiro, porque a única autora confessa do crime, Edelvânia, diz que o médico não participou. 

Depois, porque Boldrini tem álibi consistente: no dia da morte de Bernardo, 4 de abril, testemunhas viram o médico transitar o dia inteiro entre a clínica de endoscopia que possui e o hospital onde atua como cirurgião. 

Os policiais solicitaram a quebra de sigilo das contas bancárias do casal. 

A estratégia é simples: 

– Se uma quantia próxima a R$ 96 mil ou uma grande quantia saiu da conta de Boldrini nos dias subsequentes ao assassinato do filho dele, pode significar que ele passou o dinheiro prometido a Edelvânia. 

– Mesmo que um grande volume de dinheiro tenha saído de uma conta conjunta do casal Boldrini, pode ser para pagar Edelvânia pelo envolvimento no assassinato. 

– Caso uma grande quantia tenha sido movimentada em conta exclusiva de Graciele, aí pode ser que o médico não esteja mesmo envolvido no planejamento do crime. E os policiais terão dificuldades para comprovar o envolvimento dele no crime, a menos que a mulher dele diga que tudo foi planejado de comum acordo com o marido. 

Os policiais já sabem que terão uma dificuldade: do dinheiro prometido, apenas uma pequena parte teria sido efetivamente entregue por Graciele a Edelvânia. 

Leandro Boldrini é um médico afamado na cidade de Três Passos, uma cidade agricola do noroeste do Estado. 

Ele vem de uma família de agricultores médios, que o ajudou nos estudos e cuja competência como cirurgião ninguém discute. 

É também uma pessoa com um patrimônio respeitável, considerados os padrões da região. 

Graciele vem de uma família de Santo Augusto, outra pequena cidade agrícola, de classe média baixa. 

O casamento dela com o médico consolidou a ela um novo e melhor padrão econômico. 

Já Edelvânia, mulher muito bonita, não teve a mesma sorte que Graciele, a de encontrar um homem de posses e bem-sucedido para casar. 

Zero Hora conversou com uma confidente dela em Frederico Westphalen, que falou com a condição de que o seu nome fosse omitido. 

– Ela veio do interior para a cidade com uns 10 anos. Guria muito bonita, logo começou a trabalhar nas casas como doméstica para sustentar os estudos – descreve a amiga. 

Na medida em que ela se tornava uma adolescente, começou a pular de emprego em emprego. 

A amiga diz que devido à beleza de Edelvânia, as donas das casas onde ela trabalhava a demitiam assim que notava um olhar suspeito do marido disparado para a doméstica. 

Logo depois que completou a maioridade, a assistente social teve acesso a outros empregos, sempre chamando a atenção pela beleza. 

Ela conheceu um professor universitário, um homem bom e honesto, como descreveu a confidente de Frederico Westphalen, que a tornou sua companheira. 

Com ajuda dele, cursou a faculdade de Assistência Social. 

Eles romperam o relacionamento logo depois da formatura. 

Por quase uma década, ela pulou de emprego em emprego. 

Há alguns meses, ela comprou um apartamento por R$ 96 mil, na planta. 

Estava para perder o imóvel por falta de pagamento. 

Foi quando surgiu a grande oportunidade econômica da sua vida, trazida pelas mãos da amiga Graciele Ugulini: ser cúmplice da morte do menino. 

O envolvimento dela no crime surpreendeu os seus amigos e os frequentadores do posto de combustível no centro de Frederico Westphalen, cujas imagens das câmeras de segurança foram fundamentais para iniciar o solução do caso. 

– O posto era como a sala de visita da casa dela. Sempre passava algumas horas do dia andando e conversando aqui. Para nós, ela era aquela moça bonita que nunca teve a sorte de encontrar alguém – resume a amiga de Edelvânia. 

Em 8 de abril, quatro dias depois do sumiço do menino Bernardo, Edelvânia apareceu em Três Passos pela manhã, atrás de Graciele. 

Quem recorda é Andressa Vagner, secretária do consultório dos Boldrini. 

Ela recorda que Graciele apresentou a assistente social como "sua melhor amiga", que tinham morado juntas e que ela seria madrinha da filha do casal Boldrini. 

Conforme a secretária, Edelvânia e Graciele se trancaram na sala do doutor por cerca de 20 minutos. 

 – Elas sabiam com certeza que o doutor não estava aqui pela parte da manhã, todo mundo sabia que ele trabalhava no Hospital de Caridade pela manhã e no consultório de tarde. Teve uma hora que a Edelvânia recebeu um telefonema e se trancou no banheiro para falar, não queria que eu escutasse, com certeza. Achei estranho. Mas elas não tinham envelope ou algo que aparentasse dinheiro – comenta Andressa. 

Os policiais interpretam que essa visita de Edelvânia a Graciele pode ter sido uma cobrança pelo dinheiro prometido para o assassinato. 



PS: Deve-se levar igualmente em consideração que um médico cirurgião geral muitas vezes recebe valores altos em dinheiro por procedimentos cirúrgicos onde não dá recibo para fugir do IR, não seria de estranhar que o médico Leandro Boldrini tivesse este dinheiro guardado... Obviamente que um crime criteriosamente planejado não haveria grandes saques bancários para pagamento da encomenda... É mais fácil pressionar a assistente social que certamente não irá querer segurar este crime sozinha e deixar parceiros em liberdade... A quebra do sigilo telefônico pode ser um caminho para fazer a ligação do trio no cenário do crime... JS




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