domingo, 26 de maio de 2013

Morre Roberto Civita, criador da Veja






Veja

“Gosto de ser editor e o que eu sei fazer é revista”, dizia Roberto Civita. 

Mesmo depois de 1990, quando a morte de Victor Civita o levou a assumir o comando da Abril e chefiar o processo de diversificação do grupo fundado pelo pai, ele nunca se afastou da atividade que o seduziu definitivamente na década de 60, quando começou a por em prática os conhecimentos assimilados anos antes, na sua segunda temporada nos Estados Unidos. Nascido em Milão, Roberto Civita morou em Nova York de 1939 a 1949, quando veio para São Paulo. 

O bom desempenho no Colégio Graded garantiu-lhe uma bolsa de estudos nos EUA, onde percorreu, ao longo da década de 50, caminhos que o levariam à descoberta da vocação profissional e à volta definitiva ao Brasil. 

Depois de interromper o curso de Física Nuclear na Universidade Rice, no Texas, para diplomar-se em jornalismo e economia na Universidade da Pensilvânia, Roberto Civita conseguiu um estágio na editora Time Inc, que controlava as revistas Time, Life e Sports Illustrated. 

Durante um ano e meio, familiarizou-se com todos os setores da empresa, da redação à contabilidade. Em 1958, quando Victor Civita perguntou ao filho que acabara de voltar o que pretendia fazer, ouviu a resposta que apressaria a entrada da Abril no universo jornalístico: “Quero fazer uma revista de informação semanal, como a Time, uma revista de negócios como a Fortune e uma revista como a Playboy”, respondeu. 

O pai prometeu preparar a empresa para o passo audacioso, consumado em 11 de setembro de 1968, quando chegou às bancas a primeira edição de VEJA. Roberto Civita participou intensamente das experiências pioneiras que resultaram no lançamento de Realidade, Exame, Quatro Rodas ou Playboy. 

Mas nada o deixava mais emocionado que recordar a trajetória descrita pela primeira revista semanal de informação do Brasil. 

Foi ele quem a criou. 

E foi ele o primeiro e único editor de VEJA, hoje a maior publicação do gênero fora dos Estados Unidos. 

“Ninguém é mais importante que o leitor, e ele merece saber o que está acontecendo”, lembrava aos recém-chegados. 

“VEJA existe para contar a verdade. A fórmula é muito simples. Difícil é aplicá-la o tempo todo”. 

Sobretudo em ambientes hostis à liberdade de expressão, aprendeu Roberto Civita três meses depois do parto da revista. 

Em 13 de dezembro de 1968, a decretação do Ato Institucional n° 5 transformou o que era um governo autoritário numa ditadura militar sem disfarces. 

A capa da edição que noticiou o endurecimento do regime exibiu uma foto do general-presidente Arthur da Costa e Silva sentado, sozinho, no plenário do Congresso que o AI-5 havia fechado. 

Os chefes militares não gostaram da imagem, e ordenaram a apreensão de todos os exemplares. 

A essa violência seguiu-se a instauração da censura prévia, que só em meados da década seguinte deixaria de tolher os passos de VEJA. 

Risonho, cordial, otimista, Roberto Civita sempre acreditou que nenhuma atividade vale a pena se não for praticada com prazer. “Você está se divertindo?”, perguntava insistentemente aos profissionais com quem convivia. 

Mantinha-se otimista mesmo quando contemplava a face sombria do país. 

Para ele, o Brasil só conseguiria atacar com eficácia seus muitos problemas se antes aperfeiçoasse o sistema educacional, modernizasse o capitalismo nativo, removesse os entraves à livre iniciativa e consolidasse o estado democrático de direito. 

“O que VEJA defende, em essência, é o cumprimento da Constituição e das leis”, repetia. 

Também essa fórmula parece simples. Difícil é colocá-la em prática. 

Foi o que o editor de VEJA sempre soube fazer. "




PS: Ótimo o epitáfio da Veja homenageando seu criador... Todos nós de alguma maneira passaremos... Deixa eu contar algo pessoal... Aos poucos me permito confidenciar todos caminhos incógnitos que trilhei... Quando estivemos em  meio do sacrifício de Joanna Marcenal e necessitávamos da repercussão na Revista Veja, solicitei o email pessoal do Roberto Civita à colunista poderoso da revista meu amigo que me enviou... Descrevi todas as etapas do Caso Joanna diretamente para o dono da Veja, Dr. Roberto Civita... Por algum motivo meu apelo foi ignorado pelo próprio... Lamentável... Roberto Civita poderia ter  adesivado à sua biografia algo grandioso a expor os descaminhos espúrios do Judiciário que levaram a menina Joanna Marcenal à morte... Quem o substitui tem dever completar a obra inacabada...  JS







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