Fotos: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Ladrões ainda desafiam a polícia no Centro do Rio
Mesmo com ordem de reforço dada por secretário, policiamento parece insuficiente
HILKA TELLES
O DIA denunciou, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, determinou que a Polícia Militar e a Polícia Civil adotassem providências, mas os ladrões continuam agindo livremente na Avenida Presidente Vargas, atacando suas vítimas principalmente no trecho entre a Rua Uruguaiana e a Avenida Passos, no Centro do Rio.
Depois de passar uma semana flagrando a ação dos bandidos, entre 15 e 19 de abril, e exibir uma série especial em três capítulos, nos dias 24, 25 e 26 de abril, a equipe do jornal voltou ao local para conferir se o policiamento foi realmente reforçado, como anunciou a PM.
O resultado foi assustador: bastaram 15 minutos de observação na quarta-feira, 8 de maio, para testemunhar o primeiro bote.
Dois bandidos atacaram um adolescente num ponto de ônibus para roubar o celular dele.
Se houve alguma mudança no cenário, foi em relação à ação dos ladrões.
Na primeira semana de observação, a reportagem percebeu que eles caçavam suas vítimas agindo em duplas, trios e grupos de quatro a oito integrantes, dependendo da faixa etária dos ladrões.
Deste vez, a maioria deles agiu sozinha.
Durante três dias da semana passada, a equipe de reportagem voltou ao local.
Às 7h de quarta-feira, não havia qualquer tipo de policiamento na Presidente Vargas — a pé ou motorizado.
Às 7h25, efetivamente, teve início a ação dos ladrões.
Um único PM em motocicleta surgiu na Presidente Vargas às 7h54, 14 minutos após o adolescente ter sido atacado por dois bandidos.
O PM subiu com a moto na calçada da pista lateral, sentido Candelária, e foi dirigindo sobre ela, na direção da Central, passando entre os pedestres, que tinham que se desviar.
Só parou em frente à Biblioteca Estadual. Às 8h, a moto da PM reapareceu cruzando a Avenida Passos.
Às 8h18, ela chegou pela pista central, sentido Candelária.
Fez o retorno e voltou pela pista do canto, ainda no sentido Central.
Esta foi a última vez que se viu a moto fazendo a ronda, que durou exatos 22 minutos (das 7h54 às 8h18).
A equipe de reportagem saiu do ponto de observação às 11h15.
Mas a escassez de motocicletas no policiamento da Presidente Vargas não parecia ser por falta destes veículos na frota da PM.
Às 9h43, cinco motos com batedores passaram na avenida dando cobertura a uma comitiva de três carros de luxo.
No carro do meio estava a autoridade, cercada por seguranças no primeiro e no terceiro veículos.
Pelo aparato que a cercava, a autoridade deveria ser do primeiro escalão do poder e, sem dúvida, necessitava daquele tipo de segurança.
Mas, enquanto isso, o adolescente no ponto de ônibus ficou entregue à própria sorte.
Adolescente se salva no grito
Às 7h40 da última quarta-feira aparecem os dois primeiros ladrões caminhando na calçada que separa as pistas lateral e central da Avenida Presidente Vargas, sentido Candelária.
Aparentam cerca de 18 anos.
O adolescente, que seria assaltado, se encosta num poste de ferro ao lado do ponto de ônibus, na mesma calçada, próximo à esquina da Rua Uruguaiana.
Ele usa mochila nas costas e fones de ouvido.
O celular está dentro da roupa.
Os dois ladrões o cercam e tentam obrigá-lo a entregar o celular.
O adolescente reage, começa a se desvencilhar da dupla e parece falar alto para chamar a atenção.
Os ladrões desistem de roubar o rapaz.
Descrédito e ironia
De acordo com pessoas que trabalham nas imediações, o policiamento foi reforçado nos dias em que a série de reportagens foi publicada e nos dois primeiros dias úteis da semana seguinte.
“Agora está tudo como era antes. O policiamento é mínimo. Ontem mesmo (quinta-feira) pedestres pegaram um ladrão, bateram nele e depois o soltaram. Era menor de idade”, contou a administradora Raquel Medeiros. A advogada Daisy Dimon buscou no bom-humor a “solução” para o problema.
“Já viu como eles correm?! É impressionante! O governo deveria investir neles para as próximas Olimpíadas. Seriam medalhistas”, ironizou.
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