Miriam Makeba fez sucesso internacional com a música Pata-Pata, na década de 70...
Eu morava em Porto Alegre, na época...
Makeba fez uma apresentação no Teatro São Pedro em Porto Alegre...
Grupos se reuniram, pagaram ingresso e providenciaram uma vaia constrangedora à cantora...
Vivíamos um período de forte preconceito racial...
Existiam clubes, no RS, de brancos e clubes de negros onde o ingresso de uns não era permitido em outrem...
Engraçado, crianças e adolescentes não cultivavam este sentimento...
Em nossa turma do bairro Higienópolis jamais um negro foi discriminado...
Jogávamos bola, soltávamos pandorga (pipa) e íamos a festas todos juntos...
Quando um não podia entrar em algum local por causa da cor, todos voltávamos juntos sem revolta e sem criar confusão...
Acabávamos nos adaptando as situações de segregação que não compreendíamos...
Acabei lembrando da minha primeira professora no primário...
Eu tinha cinco anos de idade...
A professora era negra e eu, na minha inocência, nem lembrava disto...
Chamava-se Ana, Professora Ana...
No sul não se tem o hábito de chamar ‘Professora” de “Tia”...
Por algum motivo que jamais consegui compreender ela implicava comigo...
O Colégio era a Escola Estadual Marechal Mallet na Rua Dr.Eduardo Chartier, a mesma onde eu morava...
Belo dia ela me chamou atenção e logo após começou a chorar copiosamente...
Fui conduzida a Secretaria...
Minha mãe chegou após algum tempo...
Para meu espanto, ele repetiu na minha frente que eu havia lhe chamado de “preta fedida” e voltou a cair em pratos...
Fui criado num sistema em que a mentira era tão grave quanto assassinar alguém...
Gritei, esperneei, tentei alcançá-la e fui facilmente contido...
Fui trocado de turma...
No recreio e em ocasiões de comemorações na Escola ela jamais teve coragem de me olhar, dava impressão de tentar fugir de meu olhar acusador...
Durante o Hino Nacional de toda manhã, onde era hasteada a Bandeira do Brasil eu ficava a mirá-la na frente da minha antiga turma...
Eu tinha vontade de abordá-la para saber por que inventou aquilo...
Eram outros tempos, crianças respeitavam os mais velhos mesmos quando estavam mentindo...
Sempre que minha mãe relembrava o episódio, ria muito sem entender minha revolta...
Morreu sem acreditar que eu não tivesse ofendido minha primeira professora...
Como minha professora tinha algo em torno de 40 anos na época já deve ter morrido também...
Se é que existe outra vida e Dona Dilma leia meu blog sugiro que procure aí pelo Céu a tal Professora Ana para questioná-la...
Perda de tempo...
Professora Ana deve estar ardendo no quinto dos infernos...
Jorge Schweitzer
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