sábado, 16 de fevereiro de 2013

Atrase seu relógio em uma hora!









Engraçado, nunca sei quem acaba de me ligar...

Ainda uso agenda de papel...

Nenhum registro de quem algum dia anterior me telefona...

Desisti de utilizar o celular para gravar 'contatos' desde que recebi ligação e o nome apareceu na tela e, após eu saudar todo animado 'Coronel Moura!', alguém do outro lado da linha me avisou que meu  melhor amigo e herói da II Guerra acabara de falecer...

Fiquei mal...

Festejei alguém que apanhou o número do amigo para me comunicar sua morte...

Não quero mais saber quem me liga...

Atendo e pronto...

Ou não atendo...

A única indicação é o prefixo e quando sugiro que alguma mala interurbana salto fora...

RJ atendo sempre quando estou ligado...

Muitas vezes me desligo do mundo virtual e parto em busca do real...

Não sou escravo de nenhuma ferramenta moderna...

Escrevo, posto e saio fora...

Deleto meus endereços, desativo amigos e depois volto pior ainda...

Me acostumei ao jogo da mentira...

Diversas vezes presencio escravos do celular, atravessando ruas, entrando em ônibus ou andando em táxis sem verem a vida lá fora oculta por telas à sua frente...

Pessoas almoçam, lancham ou se divertem mais preocupadas em fotografar o prato a frente para lançarem no Instagram...

Já presenciei em bares da Lapa diversos amigos na mesma mesa todos conectados passando mensagens ignorando a vida pulsante no olhar cara a cara...

A vida real se tornou irrelevante...

Amigos virtuais arregalam suas vaidades de mentira que reais reconhecem cada verruga, ruga ou pneus ocultos em fotos na mentira de Facebook...

Ainda há pouco recebi cinco comentários no meu blog que preferi deletar e duas ligações que não atendi...

Atendi a última...

Era uma moça que conheço há 15 anos e novamente acaba de separar-se do próximo marido que já houveram tantos...

Atualmente tem 35 anos...

Brinco e sacaneio só para zoar...

Ela está completamente feliz...

Fala, fala e fala...

Chama-se Eliete...

Resolvi estampar o nome para não deixar direito a alguém achar que confusão e ela não se incomoda com exposição alguma...

Escuto...

É chato...

Nossos cotidianos mal resolvidos são chatos...

Quando nos apaixonamos ficamos enfermos, quando nos separamos viramos débeis eufóricos sem rumo desencravando qualquer ombro de outrora que nem sempre estará disponível naquela exata noite de sábado sem fim...

Gosto de alguma chuva no final da minha tarde de arco iris que não vem  e da  solidão vez por outra quando me recluso partilhar sensação de estar presente em todos locais que não me pertencem mais...

Dentro instantes desligarei o celular...

Se alguém ligar antes eu atendo...

Adoro abobrinhas engraçadas...

Rir é a melhor porta de emergência...



Jorge Schweitzer



















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