LESLIE LEITÃO
Rio - Eram pouco mais de 14h da segunda-feira, dia 9, quando a jovem modelo Luana Rodrigues de Sousa, de 20 anos, saiu pela última vez de casa, na Estrada das Canoas, em São Conrado. Short jeans, blusa creme, sandálias de dedo nos pés, a estudante colocou o telefone celular no bolso e seguiu para a vizinha Favela da Rocinha. De lá, jamais voltou. Agora, a Divisão de Homicídios (DH) investiga o desaparecimento dela e de uma amiga. Um caso que, para as famílias, já se transformou em tragédia e perda. Tanto que, na noite de ontem, foi celebrada missa de sétimo dia de Luana na Paróquia de São Conrado.
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Desde sábado, quando a coluna ‘Informe do Dia’ denunciou o caso, a reportagem procurou vizinhos, amigos e parentes das duas meninas. Dentro da comunidade, a história que ganhou corpo foi a de que Luana e a inseparável amiga Andressa teriam sido capturadas e mortas por traficantes da Rocinha, a mando do chefão local, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem.
Apesar de o registro de ocorrência do desaparecimento número 015-01567/2011 — feito na 15ª DP (Gávea), no dia 16 — e do fato de o padre que rezou a missa ter falado sobre a ‘morte de Luana’, a família da jovem se recusou a conversar com O DIA.
A cerimônia de ontem foi chamada de Missa da Esperança Cristã pelos Fiéis Defuntos. “Em oração por nossa irmã falecida Luana, que marcou nossas vidas com sua presença. Nosso encontro aqui é a prova da vitória em Cristo”, afirmou o padre.
Por várias vezes, o sacerdote falou sobre confortar os corações dos parentes que estão sofrendo com a perda da bela e alegre menina. “Nosso pedido é de conforto para nossos corações. Vamos rezar pela Luana e consolar nosso coração. Luana Rodrigues de Sousa. Muitas vezes a pressão, o poder do mal é mais forte do que nós. Mas peço que confiem em Deus. E agora pedimos paz pela vida da Luana. Que o amor vença o mal e sigamos em frente”, pregou.
Durante os 45 minutos, os pais receberam os abraços dos cerca de 70 amigos que estiveram presentes à missa, mas mal conseguiam falar.Num abraço final, o pai, Miraldo, desabafou: “Nada vai trazer minha filha de volta”.
Mutiladas e carbonizadas
A notícia da morte de Luana e da amiga Andressa causou comoção entre moradores da Rocinha e da Estrada das Canoas, onde Luana nasceu e foi criada. Seu pai é vice-presidente da associação de moradores do local.
De acordo com amigos das vítimas e moradores da Rocinha, as duas meninas, que sumiram dia 9, teriam sido mortas no dia 11. Depois, tiveram seus corpos cortados, carbonizados e enterrados na mata.
O motivo, ainda de acordo com informações de moradores revoltados, seria de um suposto relacionamento dela com um policial. “Um parente chegou a pedir pelo menos o corpo, para fazer o enterro, e os traficantes disseram para esquecer, porque não ia ter corpo”, contou um amigo.
Linda, alto astral e com perfil de líder
Amigas relatam que, ‘além de linda, Luana era muito alto astral’. Mãe de um menino de 2 anos, ela estava sempre brincando, se divertindo, mas já mostrava certa liderança, como o pai. Há duas semanas, chegou a ir a encontro comunitário no 23º BPM (Leblon). “Ela ficou quieta, na dela, mas já mostrava interesse nas questões da comunidade dela”, relata um homem que esteve no encontro no batalhão.
Luana participava de concursos de modelo e de eventos na própria Rocinha. Nas festas de fim de ano, quando artistas e atletas subiam o morro para distribuir donativos na campanha Natal Sem Fome, a jovem gostava de se vestir de Mamãe Noel: “Ela estava sempre fazendo eventos, porque era muito bonita, para ganhar um dinheirinho a mais”, conta um amigo.
Ninguém que aceite falar sobre Luana e Andressa, obviamente, quer se identificar. O terror implantado pelo traficante Nem oprime uma população que ainda vê a entrada da UPP como sonho distante. “Por favor, não fala nada pelo telefone, porque ele tem uma mala que grampeia todos os telefones da favela e depois vem atrás de mim também”, comentou outra amiga.
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