Desculpa, seu PM Barata Voa, desculpa!

A amiga de Haíssa - ao ser colocada na viatura  atrás do PM Márcio José - é questionada como se a vítima fosse ele...

Com Márcio José ainda portando o fuzil intimidador, ela balbucia:

- Desculpa, moço, desculpa!

Ao disparar desvairado tal um autômato fora de órbita, Márcio José foi advertido pelo seu companheiro  Delviro Anderson:

- Calma, calma!

O fuzil que Márcio José portava é capaz de perfurar tudo que estiver pela frente: corpos enfileirados; motor de carro; carcaça; tudo...

O soco de retração de arma deste porte não permite precisão do tiro seguinte...

Não há como ajustar mira no próximo disparo quanto mais com veículo em movimento...

Márcio José foi trucidando que encontrou pela frente como que em paúra eufórica...

Desculpa, Márcio José, desculpa...

Um tiro de fuzil é tão aterrador que o silêncio seguinte é possível perceber o tilintar no asfalto da cápsula ejetada...

Desculpa, Márcio José, desculpa...

Apenas um disparo prá cima bastaria...

Não havia confronto...

Existia apenas um  indefeso automóvel branco como alvo claro na sua frente...

Desculpa, Márcio José, desculpa...

Aquilo foi execução a sangue frio...

A família inteira da Haissa foi estraçalhada pelos nove incompreensíveis tiros de fuzil que mataram a moça pelas costas...

E a sociedade  perplexa com as imagens que demonstram total desprezo pela vida do semelhante...

O PM Delviro Anderson - motorista da viatura da ocorrência - declarou anteontem ao jornal Extra que ele e seu colega Márcio José estão sendo privados da coisa que mais gostam de fazer que é ser polícia...

Desculpa, Delviro, desculpa...

Somente o acaso divino explica nove tiros não terem matado todos dentro do carro além de outras pessoas em volta ou dentro de casas nas redondezas...

Desculpa, Delviro, desculpa...

Não é necessário  sequer  protocolos adestrados em academias de polícia para decifrar que aquela ação que as câmeras mostram não é adequada à homens da Lei...



Jorge Schweitzer